quarta-feira, 10 de junho de 2020

A História sem Fim


Não conheço quem tenha sido criança na década de 80 que não tenha se envolvido emocionalmente com o filme A História sem Fim, baseado no livro de Michael Ende.

Eu não fui diferente, era tão apaixonada por este filme que a ansiedade foi grande em mostrá-lo aos meus alunos.

Ainda assim, no começo de 2014 eu apresentei duas propostas: trabalharmos uma comédia ou uma aventura. Por sorte, aquele ano todos estavam animados com a ideia da aventura.

E assim foi. Lemos o livro, assistimos ao filme, pesquisamos também algumas montagens teatrais pelo mundo (disponíveis no youtube), estudamos a música tema... E foi um ano que, além de termos muitos alunos bastante talentosos e dedicados, tive a parceria dos professores Leandro Morais na música, em que elaborou uma orquestra de efeitos sonoros para o espetáculo; a iluminação precisa do precoce aluno Cauã; e a elaboração cenográfico-visual da professora Carol Narvaez.

Na produção contávamos com uma nova coordenadora que não possuía experiência com apresentações artísticas e confiou a mim o processo e resultado.

Eu sentia ainda que a grande maioria dos pais eram pessoas da mesma faixa etária que eu, o que facilitaria o envolvimento emocional tanto com o processo de montagem quanto a recepção do produto final.

Não foi diferente. Recebemos todos fortes elogios incluindo cartas à direção pedindo uma apresentação comunitária.

Infelizmente, a grande produção e quantidade de alunos envolvidos não tornou possível que seguíssemos com uma temporada, mas compartilho com vocês o texto final apresentado e espero ainda fazer uma montagem profissional desta peça para o público infanto-juvenil.

Lembrem-se de, se forem usar o texto em qualquer apresentação, especifiquem o crédito da adaptação dramatúrgica e me avisem!!!


 A HISTÓRIA SEM FIM
Livre adaptação do livro de Michael Ende para apresentação no Curso Integral do Sigma L2 Norte – 2014

Cena 1 - Crianças na escola e perseguição ao Bastian - 5º ano
 No palco uma sala de aula com alunos esperando a professora, fazendo bagunça, conversando. A professora entra na sala, passa o dever no quadro e sai.
MIGUEL – Ai, que aula cansativa, ainda falta tanto pra acabar e eu só queria dormir.
TIAGO – Que nada, a próxima aula é legal, difícil vai ser amanhã que tem prova...
MARIANA – Hei, gente, vocês vão na festa da Marina no sábado?
MARINA – Lógico que vão, eu só não chamei aquele garoto esquisito, Bastian, ele nunca conversa com ninguém.
MARIANA – Também, se você tivesse chamado, acho que ninguém ia querer ir na festa, né Marina.
MARINA – Gente, silêncio, a professora chegou.
PROFESSORA LUIZA – Olá turma, estão todos presentes? Só está faltando Bastian, como sempre. Façam silêncio e prestem atenção, vou anotar a matéria no quadro e depois vou beber água e já volto. 
TIAGO – É para copiar, professora?
PROFESSORA LUIZA – Não, é pra tirar xerox! É claro que é pra copiar.
Enquanto os alunos copiam o dever, começam a falar de Bastian.

Cena 2 - Bastian e o Alfarrábio - 5º ano
LIVREIRA: Ou entre ou saia, mas feche a porta que está ventando muito.
BASTIAN: Sim, senhora.
LIVREIRA: Preste atenção, menino, eu não gosto de crianças. Vocês não passam de uns desajeitados que bagunçam e estragam tudo, sujam os livros de chocolate, rasgam as páginas e eu não quero problemas aqui na minha livraria. Aviso logo, eu não tenho livros infantis aqui.
BASTIAN: Mas nem todos são assim. Eu me chamo Bastian, senhora, e não quero incomodar.
LIVREIRA: Parece que você está fugindo de alguma coisa. A polícia está atrás de você? Do que está fugindo?
BASTIAN: Dos garotos da minha turma. Eles nunca me deixam em paz. Me xingam, me empurram e riem de mim.
LIVREIRA: E por que você não bate neles?
BASTIAN: Porque eu não gosto de brigas e também não sou bom de lutas.
LIVREIRA: E por que não fala com eles?
BASTIAN: Da última vez que tentei, eles me jogaram numa lata de lixo.
LIVREIRA: Bom, pelo menos você é um bom aluno?
BASTIAN: Não, ano passado eu repeti de ano porque eu tive um problema pessoal.
LIVREIRA: Minha nossa, você é um fracasso então? O que você gosta de fazer?
BASTIAN: Gosto de inventar histórias, criar nomes, imaginar coisas.
LIVREIRA: E seus pais, são casados?
BASTIAN: Não, minha mãe morreu.
LIVREIRA: Lamento, garoto. Espere um momento que vou atender ao telefone e já volto. Não mexa em nada.

Cena 3 – Fantasia – 6º e 7º
BASTIAN (lendo o livro): Era meia-noite na floresta uivante, vento sibilava sobre as cúpulas das árvores. Subitamente algo enorme colidiu e ressoou através da floresta misteriosa.
 GIGANTE: Com licença, será que posso ficar com vocês essa noite? É que eu viajei o dia inteiro.
O gigante come, todos se assustam.
GIGANTE: Essas pedras calcárias parecem deliciosas.
PEQUENO GNOMO NOTURNO: Ele é meio maluco, não é?
HOMENZINHO ELEGANTE E MINÚSCULO: Certamente, senhor come-pedras, e nós estamos aqui por causa dessas pedras.
BASTIAN (lendo o livro): De repente, uma luzinha fraca passou em ziguezague pelo bosque, parou tremeluzindo aqui e ali, a uma esfera luminosa, do tamanho de uma bola de gude, que se deslocava em extensos saltos. Era um fogo-fátuo. E tinha-se perdido. Era, portanto, um fogo-fátuo perdido, uma coisa muito rara, mesmo em Fantasia. Segurava na mão direita uma bandeirinha branca, minúscula, que se agitava através dele. Tratava-se, portanto, de um mensageiro ou de um embaixador.
GIGANTE: Há hoje muito movimento por aqui. Aí vem outro.
 PEQUENO GNOMO NOTURNO: — Huhu, um fogo-fátuo! Que prazer, que prazer!
HOMENZINHO ELEGANTE E MINÚSCULO: — Pelo que vejo, você. . . também está aqui na qualidade de mensageiro.
FOGO FÁTUO: — Estou, sim!
HOMENZINHO ELEGANTE E MINÚSCULO: — Então aproxime-se, por favor. Também nós somos mensageiros. Venha sentar-se conosco. Você não quer se sentar, amigo?
FOGO-FÁTUO: A verdade é que estou com muita pressa, Eu só queria perguntar se vocês saberiam me ensinar o caminho para a Torre de Mármore.
PEQUENO GNOMO NOTURNO: Huhu! Quer ir visitar a imperatriz Criança?
FOGO FÁTUO: É isso mesmo. Tenho uma mensagem muito importante para ela.
 GIGANTE: Que mensagem?
FOGO-FÁTUO: Trata-se de uma mensagem secreta.
CARACOL: Todos têm a mesma missão que você, é possível que seja a mesma mensagem. Por que não conta logo?
FOGO-FÁTUO: Acontece que na minha terra, onde costumava ter um lindo lago, ele sumiu, não está mais lá. Não existe mais nada.
 CARACOL: É como um buraco?
FOGO-FÁTUO: Não é um buraco, se fosse um buraco existiria alguma coisa, mas não existe mais nada.
GIGANTE: Onde moramos está acontecendo a mesma coisa.
GNOMO NOTURNO: Nós moramos no sul, e lá também.
FOGO-FÁTUO: meu povo me mandou pedir ajuda à imperatriz na torre de mármore.
HOMEM MINÚSCULO E ELEGANTE: Nós todos temos essa mesma missão, o que estamos esperando? Também na minha região o nada dominou tudo.
MORCEGO (que estava dormindo durante todo o tempo, acorda): Que está acontecendo, amigos? Vocês estão indo logo? Essa não.... (o morcego olha em volta e percebe que o nada está se aproximando enquanto seus amigos partem). O nada!

Cena 4 - A Torre de Mármore - 4º ano
DUENDE – Tenho que falar imediatamente com a Imperatriz Criança!
MINOTAURO – Eu já anunciei a minha chegada!
ELFO MALUCO – Anunciou a sua chegada? Então não é possível ir falar logo com ela?
BRUXA – Não, é preciso esperar muito tempo, há aqui um grande número de mensageiros!
FANTASMA – Mas o que há aqui? Que confusão é essa?
MONSTER HIGH – O que toda esta gente está fazendo aqui?
PRINCESA – São todos mensageiros, de todas as regiões de fantasia.
DRAGÃO VERMELHO – Todos trazem a mesma mensagem que nós, já falei com muitos deles, parece que por toda parte surgiu o mesmo perigo.
ELFO MALUCO – E a imperatriz Criança?
GNOMO – Quando podemos falar com ela?
FADA-MÉDICA – Silêncio! A imperatriz Criança está doente!
BRUXA - A imperatriz criança é a soberana de todos os inumeráveis países do reino sem fronteira de fantasia. E mais que soberana, ela trata a todos com igualdade, não julga ninguém e nem dá ordens.
FADA MÉDICA - A imperatriz criança é o centro de todo o reino de Fantasia e todas as criaturas só existem porque ela também existe.
MINOTAURO – Ela é respeitada por todas as criaturas deste reino, e todos nós estamos igualmente preocupados com a sua sobrevivência.
PRINCESA – Ela está muito doente e o fato é que nenhum de nós sabe como curar a imperatriz criança.
FANTASMA – O problema é que sem ela nada pode existir, assim como um corpo humano não pode existir sem coração.
DRAGÃO VERMELHO – Se ao menos soubéssemos em que consiste sua doença. Não tem febre, não tem nenhum inchaço, nenhuma inflamação. É como se estivesse simplesmente se apagando.
MONSTER HIGH — Não tosse, não assoa o nariz, não tem nenhuma doença conhecida da medicina. 
ELFO-MALUCO — Uma coisa parece evidente, há uma estranha relação entre a doença dela e as coisas terríveis que os mensageiros vindos de todos os lados de Fantasia nos anunciam!
DUENDE – Ora, ora, você vê relações estranhas em tudo.
ELFO-MALUCO – E você não vê nada além dessas orelhas enormes.
DUENDE — Por favor, colegas! Não vamos entrar em discussões subjetivas e pessoais! E, sobretudo. . . não falem tão alto! 
Cairon entra no palco com o medalhão
DRAGÃO VERMELHO - Silêncio, vejam todos, é o medalhão, o distintivo do enviado da imperatriz Criança, só quem carrega esse medalhão pode agir em seu nome, é como se ela própria estivesse presente. O nome do medalhão é Aurin.
CAIRON: Representantes dos povos de Fantasia, não vou tentar disfarçar nosso fracasso com palavras bonitas. Estamos todos perplexos diante da doença da imperatriz Criança. Sabemos apenas que esta doença coincidiu com o aniquilamento progressivo de Fantasia. 
Precisaremos de um explorador capaz de encontrar caminho onde caminho não há, e de não retroceder diante de qualquer perigo ou esforço. Numa palavra, um herói. E a imperatriz Criança disse-me o nome desse herói, a quem ela e nós confiamos nossa sorte: o nome dele é Atreiú e vive no Mar das Ervas, para além das Montanhas de Prata. Agora vocês já sabem de tudo. 

Cena 5 - O Acampamento dos Pele-verde - 3º ano
CAIRON - Onde estão os caçadores e caçadoras?
ADOLESCENTE 1 - Foram todos caçar. Só voltam daqui a três ou quatro dias.
CAIRON - Atreiú está com eles?
ADOLESCENTE 2 – Sim, estrangeiro, mas como é que o conhece?
CAIRON - Não o conheço, mas ele precisa ser chamado agora.
ADOLESCENTE 3 - Estrangeiro, dificilmente ele virá porque hoje é a sua caçada.
MENININHA - Você está usando a jóia, você foi enviado pela imperatriz?
CAIRON - Eu sou o médico Cairon, vocês não me conhecem?
ADOLESCENTE 4 - Sim, estou reconhecendo o senhor, é o médico mais famoso de Fantasia!
ADOLESCENTE 5 – É mesmo, o médico Cairon, a gente sempre ouviu falar nele.
ADOLESCENTE 6 - Eu vou chamar Atreiú para o senhor, não se preocupe.
Cairon desmaia no chão de cansaço.
ADOLESCENTE 6 – Minha nossa, ele devia estar muito cansado, vejam como ele desmaiou? Coitado!
 Um tempo depois acorda.
GUERREIRO 1 - Parece que ele acordou! Este é Atreiú, senhor, ele deixou de caçar para vir aqui.
ADOLESCENTE 7 - Mas senhor, ele é só uma criança! Você não percebe? Como ele vai te ajudar?
ADOLESCENTE 8 – Em que consiste essa missão?
CAIRON — Em encontrar o remédio para a imperatriz Criança e salvar Fantasia. 
ADOLESCENTES 9 E 10 – A imperatriz está doente? O que aconteceu com ela? Tem alguma coisa que podemos fazer para ajudá-la? Fantasia corre perigo?       
CAIRON - Então, você aceita?
ATREIU - Aceito.

Cena 6 - Artreiu e Artax - 6º e 7º anos
ATREIÚ — Artax, temos de partir novamente. Temos de ir para longe, muito longe. E ninguém sabe se voltaremos. 
ARTAX — Sim, meu senhor. É o seu dia de caça? 
ATREIÚ — Vamos atrás de caça muito mais importante. 
ARTAX — Espere, senhor! Você esqueceu suas armas. Vai partir sem o arco e as flechas? 
ATREIÚ — Sim, Artax. Porque levo o "Brilho" e tenho de ir desarmado. 
ARTAX — Ah! E para onde vamos? 
ATREIÚ — Para onde você quiser, Artax! Deste momento em diante começamos a Grande Busca. 
Eles encontram 3 trols
TROL SEM AS PERNAS — Não tenha medo! Não temos boa aparência, mas nesta parte do Bosque de Haule não há mais ninguém, além de nós, que possa preveni-lo. Foi por isso que viemos ao seu encontro. 
ATREIÚ — Prevenir-me? De quê? 
TROL COM BURACO NO MEIO DA BARRIGA — Já ouvimos falar de você. E nos disseram o motivo pelo qual você está viajando. Você não deve prosseguir, senão estará perdido. 
TROL SÓ COM METADE DO CORPO — Vai acontecer a você o mesmo que aconteceu a nós. Olhe para nós. Você gostaria de ficar assim? 
ATREIÚ — Mas o que aconteceu a vocês?
TROL 1 — A destruição está se alastrando. Está cada vez maior, cresce de dia para dia... se é que se pode dizer que o nada aumenta. Todos os outros fugiram do Bosque de Haule, mas nós não quisemos deixar nossa terra. E então ele nos surpreendeu durante o sono e nos deixou como você está vendo. 
ATREIÚ — Dói muito?
TROL 2 — Não, a gente não sente nada. Ficamos sem uma parte. E depois disso ter acontecido cada vez nos falta uma parte maior. Em breve deixaremos de existir. 
ATREIÚ — E em que lugar da floresta aconteceu isso? 
TROL 3 — Você quer ver? Vamos levá-lo até um lugar onde você possa ver, mas você precisa nos prometer que não vai se aproximar. Caso contrário, o nada vai te atrair de modo irresistível. 
ATREIÚ – Está bem. Prometo. 
TROL 1 — Suba o mais alto que puder. E depois olhe para o lado onde o sol se põe. Então você o verá. . . ou melhor, não o verá. 
Atreiú fica tonto e caí no sono. Enquanto sonha na plateia, no palco aparece o grande búfalo.
BÚFALO – Se você tivesse me matado, agora seria um caçador. Mas você não o fez, por isso posso ajudá-lo, Atreiú. Escute! Há em Fantasia um ser que é mais velho do que todos os outros. Longe, muito longe, na direção do norte, fica o Pântano da Tristeza. No meio desse pântano, eleva-se a Montanha da Depressão. É aí que mora a Velha Morla. Procure a Velha Morla!

Atreiú acorda.

Cena 7 – O pântano da tristeza e a Velha Morla – 6º e 7º anos
ARTAX – Temos de entrar aí, meu senhor?
ATREIÚ – Temos.
ARTAX – Não sei, acho que devíamos voltar para trás. Isto não tem sentido, estamos atrás de uma coisa que não passou de um sonho, não temos o que encontrar. Talvez a imperatriz Criança já tenha morrido e essa procura não sirva para nada. Vamos voltar, meu senhor.
ATREIÚ – Artax, você nunca me falou assim. O que você tem? Está doente?
ARTAX – A cada passo que damos minha tristeza é maior. Perdi a esperança e estou cansado. Não quero mais andar.
ATREIÚ – Mas temos que seguir. Vamos Artax! Você não pode desistir agora! Ande! Eu seguro você! Não vou deixar você morrer.
ARTAX – Senhor, por favor, vá embora. Não quero que me veja morrer.
Atreiú sai arrasado e deixa Artax para trás. Atreiú anda pela plateia chorando, arrasado. Quando encontra a Velha Morla no palco.
VELHA MORLA — Ei, garoto, o que você faz aqui? 
ATREIÚ — Conhece isto, Morla? 
VELHA — Olha, velha... AURIN... Há muito tempo que não o víamos, o Sinal da imperatriz Criança. . . Há muito tempo. 
ATREIÚ — A imperatriz Criança está doente. Você sabia? 
VELHA (falando consigo mesma)— Tanto faz, não é verdade, velha?
ATREIÚ — Se não a salvarmos, ela vai morrer e Fantasia deixará de existir.
VELHA MORLA — Pouco nos importa, não é verdade, velha? Escute uma coisa menino: E o que tem demais nisso? Para nós nada tem importância. Tudo nos é indiferente; nada nos interessa.  Somos velhas, menino, velhas demais. Já vivemos bastante. Já vimos muito. Para quem sabe tanto como nós, nada é importante. Tudo se repete eternamente, dia e noite, verão e inverno; o mundo está vazio e não tem significado. Tudo se move em círculos. O que aparece tem de desaparecer, o que nasce tem de morrer. Tudo passa, o bem e o mal, o estúpido e o inteligente, o belo e o feio. Tudo é vazio. Nada é real. Nada é importante. 
ATREIÚ – Mas o Nada está se alastrando por toda parte!
VELHA MORLA — Você é novo, menino. Nós somos velhas. Se você fosse velho como nós, saberia que não há nada senão tristeza. Veja uma coisa. Por que não haveríamos de morrer, você, eu, a imperatriz Criança, todos, todos? Tudo é aparência, tudo é um jogo no Nada. Tudo vai dar exatamente no mesmo. Deixe-nos em paz, menino, vá embora. 
ATREIÚ — Se você sabe tanto, também deve saber qual é a doença da imperatriz Criança e se há remédio para ela. 
VELHA MORLA — Sabemos, não é verdade, velha? Sabemos. Mas tanto faz que ela se salve ou que morra. Por isso, por que haveríamos de dizê-lo a você? 
ATREIÚ — Se tudo lhe é indiferente, então você poderia dizer-me. 
VELHA MORLA — Poderíamos, não poderíamos, velha? Mas não temos vontade. 
ATREIÚ — Então, é porque nem tudo lhe é indiferente! Nem mesmo você acredita no que diz! 
VELHA MORLA — Você é manhoso, menino! Você tem pouco tempo, eu muito. A imperatriz Criança já existia antes de nós. Mas não é velha. É sempre jovem. Repare. A vida dela não se mede em tempo, mas sim em nomes. Precisa de um nome novo, precisa sempre ter um novo nome. Sabe os nomes dela, menino?
 ATREIÚ — Não.
VELHA MORLA — Ela já teve muitos. Mas todos foram esquecidos. Todos passaram. Sem um nome, porém, ela não pode viver. A imperatriz Criança precisa apenas de um novo nome para ficar curada.
 ATREIÚ — E de quem ela recebe esse nome? Quem pode dar-lhe um nome? Onde posso encontrar esse nome? 
VELHA MORLA — Nenhum de nós. Nenhum ser de Fantasia lhe pode dar um nome novo. Por isso, não há nada a fazer. Mas não se preocupe, menino. Nada importa. 
 ATREIÚ — Quem? Diga-me quem sabe, e eu a deixarei em paz para sempre! 
VELHA MORLA — Afinal, dá no mesmo. Talvez o Oráculo do Sul. Talvez ele saiba. Que nos importa? 
ATREIÚ — E como posso chegar até lá? 
VELHA MORLA — Não pode chegar de maneira nenhuma, menino.

Cena 8 - a Ygramul, o Múltiplo, o mais terrível dos monstros 
NARRADOR 1 - 5º ANO – Os outros iam para casa almoçar. Bastian também tinha fome, e estava com muito frio, apesar da grossa manta militar que colocara sobre os ombros.
NARRADOR 2 - 5º ANO – De repente, perdeu a coragem, e todo o seu plano lhe pareceu completamente disparatado e absurdo. Queria ir para casa, agora mesmo, naquele exato momento! 
NARRADOR 3 - 5º ANO – Ainda estava em tempo. O pai ainda não teria percebido nada. Bastian nem sequer precisaria dizer-lhe que tinha matado a aula. É claro que algum dia seu pai viria a saber, mas não seria agora.
NARRADOR 4 - 5º ANO – E o problema do livro roubado? Sim, também teria de confessá-lo. O pai havia de encarar isso como encarava todas as desilusões que Bastian lhe tinha dado. Não havia razões para ter medo. 
BASTIAN — Não. Atreiú não desistiria tão depressa, só porque a coisa estava um pouco difícil. Tenho de levar até o fim o que comecei. Agora já fui longe demais para voltar atrás. Tenho de continuar, aconteça o que acontecer.

Atreiú anda pela beirada do palco como se fosse um precipício, sente medo, insegurança, não sabe para onde seguir... vai margeando o palco. Eventualmente aparece a figura do Lobo escondido, seguindo Atreiú pelo caminho. Quando Atreiú escuta um barulho, percebe o Dragão da Sorte amarrado a uma teia. Ele lutava com Ygramul.
ATREIÚ — Alto! Em nome da imperatriz Criança, pare!
 Ygramul continua lutando com o Dragão, mas para e olha para Atreiú. Ygramul é uma criatura horrível e Bastian dá um grito assustador.

Todos param, pois escutaram o grito de Bastian.

BASTIAN - Terá sido o meu grito que ele ouviu?
YGRAMUL - Um bípede! Depois de passar fome durante tanto tempo aparecem-me logo estes dois petiscos! Que dia de sorte para Ygramul!

ATREIÚ — Sou Atreiú e cumpro uma missão da imperatriz Criança! 
YGRAMUL — Você vem em má hora. Que quer de Ygramul? Estou muito ocupado, como você pode ver. 
ATREIÚ  — Quero este Dragão da Sorte, dê-o para mim! 
YGRAMUL — Para que você o quer, bípede Atreiú? 
ATREIÚ  — Perdi meu cavalo no Pântano da Tristeza. Tenho de ir procurar o Oráculo do Sul, pois só ele pode me dizer quem é capaz de dar um novo nome à imperatriz Criança. Se não receber esse nome ela morrerá, e com ela toda a Fantasia, e você também, Ygramul, a quem chamam Múltiplo. 
YGRAMUL — Ah! É por isso que apareceram esses lugares onde não há nada? 
ATREIÚ  — Sim. Você também já sabe, Ygramul. . . O Oráculo do Sul mora muito longe e o tempo que me é dado viver não seria suficiente para ir até lá. É por isso que peço este Dragão da Sorte. Se ele me transportar pelos ares, talvez possa atingir meu objetivo a tempo. 
YGRAMUL — O veneno de Ygramul já está no corpo do dragão. Ele não tem mais do que uma hora de vida, quando muito. 
ATREIÚ  — Então, já não há esperança, nem para ele, nem para mim, nem para você, Ygramul. 
YGRAMUL — Bem, pelo menos Ygramul terá comido bem pela última vez. Mas também não podemos dizer que esta seja a última refeição de Ygramul. Porque ele sabe uma maneira de o conduzir num abrir e fechar de olhos até ao Oráculo do Sul. Resta saber se essa maneira lhe agrada, bípede Atreiú. 
ATREIÚ  — O que você quer dizer? 
YGRAMUL — Esse é o segredo de Ygramul. As criaturas do Abismo também têm seus 
segredos, bípede Atreiú. Até agora Ygramul nunca o revelou a ninguém. E você também tem de jurar que não o dirá a ninguém. Pois seria muito ruim para Ygramul, muito ruim mesmo, se este segredo fosse conhecido. Tem que deixar que Ygramul o morda. O veneno de Ygramul, mata ao fim de uma hora, mas, ao mesmo tempo, confere àquele que o tem em si o poder de se deslocar até qualquer lugar de Fantasia onde deseje ir. Imagine o que seria se todos soubessem disto! Todas as vítimas de Ygramul lhe escapariam! 
ATREIÚ  — Uma hora? Mas que posso eu fazer em apenas uma hora? 
YGRAMUL — Essa hora lhe será mais útil do que todas as horas que possa passar aqui. Decida!
ATREIÚ  — Faça o que me propôs!

BASTIAN — Graças a Deus que não estou em Fantasia. Felizmente estes monstros não existem na realidade. Afinal, trata-se apenas de uma história. 

Cena 09 - Atreiú no pântano e o Dragão da Sorte - 6º e 7º anos
Atreiú está dormindo próximo ao Dragão da Sorte no palco. O Dragão da Sorte acorda.
DRAGÃO DA SORTE - Atreiú, Atreiú! Não se espante por eu também estar aqui, Atreiú. É certo que eu estava paralisado, preso na teia de aranha, mas ouvi tudo o que Ygramul disse a você. E, então, pensei que também podia fazer uso do segredo que ele tinha confiado a você. E foi assim que escapei. 
ATREIÚ - Custou-me muito deixá-lo nas garras de Ygramul, mas o que eu podia fazer?
DRAGÃO DA SORTE - Para cada veneno existe um antídoto. Você vai ver que tudo se resolverá. De agora em diante, tudo vai dar certo para você. Afinal sou um Dragão da Sorte. ATREIÚ — Por que você pediu para vir a este lugar, e não a qualquer outro lugar mais agradável?
DRAGÃO DA SORTE — A minha vida, se você a quiser, pertence a você. Pensei que precisaria de um animal em que montar para a Grande Busca. E você verá que é muito diferente percorrer o mundo nas costas de um Dragão da Sorte, que cruza os céus à velocidade do vento. Combinado?
ATREIÚ — Combinado! Mas temos que fazer alguma coisa, e eu não sei o que!
DRAGÃO DA SORTE — Ter sorte é o que basta.
Atreiú desmaia sentindo o efeito do veneno de Ygramul.

Cena 10 - Os velhinhos cientistas – 4º ano – sexta-feira
CIENTISTA 1 — Bom remédio, ótimo remédio! Beba, filho, beba. Vai lhe fazer bem!
ATREIÚ — O que aconteceu com o dragão branco?
CIENTISTA 2 — Está tudo em ordem. Não se preocupe, rapaz. Ele vai ficar bom. Os dois vão ficar bons. O pior já passou. Mas beba, beba!
CIENTISTA 3 – Agora nos diga, quem são vocês?
CIENTISTA 4 – Pare de fazer perguntas!
CIENTISTA 5 — Nós podemos ajudar vocês a encontrar as três portas do Oráculo do Sul.
ATREIÚ — Compreendo. E o que são estas três portas?
CIENTISTA 6 — A primeira chama-se Porta do Grande Enigma. A segunda, Porta do Espelho Mágico. E a terceira, Porta Sem Chave...
CIENTISTA 7 — A primeira, a Porta do Grande Enigma, é a porta das duas esfinges. Essa porta está sempre aberta. . . O que é lógico.
CIENTISTA 8 — Apesar disso, ninguém pode passar para o outro lado, a menos que... as esfinges fechem os olhos. Porque o olhar de uma esfinge é totalmente diferente do olhar de qualquer outro ser.
CIENTISTA 9 — Nós e todos os outros seres olhamos para alguma coisa. Vemos o mundo. Mas uma esfinge não vê nada: é cega. Mas seus olhos transmitem algo.
CIENTISTA 10 — Eles transmitem todos os enigmas do mundo. Por isso, as duas esfinges estão sempre a olhar uma para a outra. Porque só uma esfinge pode suportar o olhar de outra esfinge.
CIENTISTA 11 — Agora imagine o que será de uma pessoa que se atreva a interferir na troca de olhares entre ambas!
CIENTISTA 12 — Fica petrificada, e não poderá mover-se antes de ter decifrado todos os enigmas do mundo. Bom, quando você passar por lá logo verá os restos desses pobres diabos.
ATREIÚ — Mas você não disse que elas às vezes fecham os olhos? Não dormem de vez em quando?
CIENTISTA 13 — Dormir? Pelo amor de Deus, imagine uma esfinge dormir! Não, claro que não dormem.
CIENTISTA 14 — As esfinges fecham os olhos para certos visitantes e deixam-nos passar. A questão é: por que fecham os olhos para uns e não para outros?
CIENTISTA 15 — Ninguém sabe. Você terá de fazer o que todos fazem, esperar até que elas decidam. . . sem saber por quê.
CIENTISTA 16 — A segunda porta. A Porta do Espelho Mágico. Sobre ela, nada podemos dizer que tenha sido observado pessoalmente, mas só aquilo que nos é contado. Esta segunda porta está ao mesmo tempo aberta e fechada.
CIENTISTA 17 — Parece absurdo, não parece? Talvez seja melhor dizer que não está nem aberta, nem fechada. Em resumo: é como um grande espelho, ou qualquer coisa do gênero, mas não é feita de vidro nem de metal.
CIENTISTA 18 — Quando as pessoas chegam em frente dela, vêem-se a si próprias. . . mas não como se veriam num espelho comum, nada disso! Não vêem sua aparência exterior, mas seu verdadeiro ser interior, tal como ele é na realidade. Quem quiser transpor esta porta tem de penetrar em si próprio.
CIENTISTA 19 — A Porta Sem Chave está fechada. Simplesmente fechada. E é tudo! Não tem trinco, nem puxador, nem buraco de fechadura, nada!
CIENTISTA 20 — Não há nada capaz de partir, dobrar ou dissolver o selênio de Fantasia. Ele é absolutamente indestrutível.
ATREIÚ — Então, é impossível passar por essa porta?
CIENTISTA 1 — Devagar, rapaz, devagar! Já houve pessoas que passaram por ela e falaram com Oráculo, não é verdade? Portanto, é possível abrir a porta.
ATREIÚ — Mas como?
CIENTISTA 3 — Ouça bem: a terceira porta reage à nossa vontade. É precisamente a nossa vontade que o torna tão resistente. Quanto mais queremos entrar, mais fechada se torna a porta.
CIENTISTA 4 — Mas se alguém conseguir se esquecer de todas as suas intenções e não quiser absolutamente nada. . . a porta se abrirá sozinha.
ATREIÚ — Já entendi, agora tenho que partir. Tomem conta do Dragão da Sorte enquanto isso.
TODOS OS CIENTISTAS – Boa Sorte, Atreiú! Vai precisar de muita sorte!

CENA 11 – As Três Portas Mágicas – 5º, 6º e 7º anos
BASTIAN (Lendo o livro) – Atreiú estava agora a cerca de cinquenta passos da porta das Esfinges. Em frente à porta e entre dois pilares, Atreiú viu inúmeras caveiras e esqueletos. . . Restos dos mais diversos habitantes de Fantasia que, ao tentarem transpor a porta, haviam sido paralisados para sempre pelo olhar das esfinges.
NARRADOR 3 – Mas não foi isso que fez Atreiú parar. O que o deteve foi o aspecto das esfinges.
NARRADOR 4 – Atreiú já tinha aprendido muito em sua Grande Busca; vira muitas coisas, algumas maravilhosas e outras terríveis, mas até aqui não sabia que o maravilhoso e o terrível podiam coexistir num só objeto e que a beleza podia ser horrível. Apesar disso, continuou em frente. Não voltou a olhar para cima.
NARRADOR 5 – O fardo do medo que queria pregá-lo ao chão era cada vez mais pesado. Apesar disso, continuou. Não sabia se as esfinges tinham ou não fechado os olhos.
NARRADOR 6 – E no mesmo instante em que lhe pareceu que toda sua força de vontade era insuficiente para dar o último passo, ouviu o ressoar desse passo no interior do arco de rocha. NARRADOR 1 – E, ao mesmo tempo, o medo o abandonou, tão total e absolutamente, que ele percebeu que dali em diante nunca mais teria medo, acontecesse o que acontecesse.
BASTIAN – Ergueu a cabeça e viu que a Porta do Grande Enigma ficava para trás. As esfinges tinham-no deixado passar.
No palco todos os cientistas vibram em comemoram. Os narradores e os personagens de Fantasia saem da plateia, antes de subir no palco Atreiú percebe que está diante da segunda porta.
ATREIÚ – A segunda porta: quando se confrontam consigo mesmos, a maioria dos homens foge!
Bastian e Atreiú se olham de frente.
BASTIAN – Mas isso não faz o menor sentido. Isso já está indo longe demais!
Bastian joga o livro.
Atreiú segue com coragem de volta para a plateia. Vê a terceira porta. Os cientistas voltam a espiar pelo palco.
CIENTISTAS – Ele está conseguindo, chegou ao terceiro portal, chegou ao Oráculo do Sul!
Todos prestam bastante atenção.
No corredor da plateia estão as duas esfinges e Atreiú.
ESFINGE 1 – Não tenha medo! Estamos esperando por você há muito tempo, Atreiú!
ATREIÚ – Esse é o Oráculo do Sul?
ESFINGE 2 – Sim, nós somos e sabemos o que pode salvar fantasia. A imperatriz precisa de um novo nome.
ESFINGE 1 – Só uma criança humana pode dar a ela um novo nome.
ESFINGE 2 – E você só a encontrará além das fronteiras de fantasia.
ESFINGE 1 – Se você quiser salvar nosso mundo, precisa se apressar.
ESFINGE 2 – Não sabemos mais por quanto tempo poderemos deter o Nada!
ESFINGE 1 - Chegou a hora, já é tarde. Temos de nos separar.
ESFINGE 2 – O Nada vem chegando e o Oráculo vai se calar.


Atreiú sai correndo e encontra o Dragão, eles saem pela plateia.
BASTIAN – Mas se eles estavam falando comigo, por que não me perguntaram? Minha mãe tinha um nome muito bonito!

Cena 12 – O confronto com o Nada – Gmork
GMORK – Eu vou cortar você em pedacinhos.
ATREIÚ – Quem é você?
GMORK – Eu sou Gmork, e você, seja lá quem for, vai ter a honra de ser minha última vítima.
ATREIÚ – Não morrerei tão facilmente, sou um guerreiro.
GMORK – Ah corajoso guerreiro, então lute contra o nada
ATREIÚ – Eu não posso, não consigo ultrapassar as fronteiras de fantasia.
GMORK – Fantasia não tem fronteiras.
ATREIÚ – Não é verdade, está mentindo.
GMORK – Garoto tolo. Não sabe nada sobre fantasia. É o mundo da fantasia humana. Cada lugar, cada criatura dela é uma peça dos sonhos e das esperanças do ser humano. Por isso ela não tem fronteiras.
ATREIÚ – Mas por que fantasia está morrendo?
GMORK – Porque as pessoas começaram a perder a esperança e esquecer seus sonhos. Por isso o nada ficou tão forte.
ATREIÚ – O que é o nada?
GMORK – É o total vazio. É a destruição absoluta deste mundo. E eu tenho tentado ajudar.
ATREIÚ – Por quê?
GMORK – Porque as pessoas que não têm esperança são fáceis de se controlar. E quem tem o controle, tem o poder!
ATREIÚ – Quem é você realmente?
GMORK – Eu sou o servo do poder por trás do nada. Eu fui enviado para matar aquele que poderia impedir o nada. Seu nome é Atreiú?
ATREIÚ – Então se vamos morrer, prefiro morrer lutando. Venha me pegar, eu sou Atreiú!
Lutam. Atreiú consegue matar Gmork e cai cansado junto ao seu corpo. Na plateia o Dragão da Sorte procura por Atreiú. Ele encontra Atreiú no palco e entrega o Aurin para Atreiu. Os dois encontram a Imperatriz que está com uma pequena luz na mão.

Cena 13 – A Imperatriz criança
ATREIÚ – Deixe o Aurin nos guiar! Se a Torre de Mármore ainda existir, leve-nos até lá!
Os dois encontram a Imperatriz que está com uma pequena luz na mão.
BASTIAN – É ela, a Imperatriz! Parece uma menininha!
IMPERATRIZ – Atreiú, por que está tão triste?
ATREIÚ – Eu falhei, Imperatriz.
IMPERATRIZ – Não, não falhou, você o trouxe com você.
ATREIÚ – Quem?
IMPERATRIZ – A criança da Terra, a única que pode nos salvar!
ATREIÚ – Você sabia sobre essa criança humana? Meu cavalo morreu, eu quase morri, quase fui pego pelo nada!
IMPERATRIZ – Claro, eu sabia de tudo. Essa era a única forma de entrar em contato com um humano.
ATREIÚ – Mas eu não entrei em contato com um humano.
IMPERATRIZ – Entrou sim. Ele sofreu com você, ele passou por tudo que você passou. E agora ele veio até aqui com você. Ele está bem perto, escutando todas as palavras.
BASTIAN – O que?
ATREIÚ – Onde está ele? Se está tão perto, por que ele não vem?
IMPERATRIZ – Ele ainda não sabe que faz parte da História sem Fim. Enquanto ele está vivendo as suas aventuras, os outros estão vivendo a dele, estavam com ele quando ele se escondeu dos meninos da livraria. Ele pegou o livro com símbolo do Aurin na capa e está lendo sua própria história agora!
BASTIAN – Mas isso é impossível. Eu não posso acreditar, eles não podem estar falando de mim. O que eu tenho que fazer?
ATREIÚ – O que ele tem que fazer?
IMPERATRIZ – Ele só tem que me dar um novo nome, ele só tem que falar alto! Bastian!
BASTIAN – Está bem, eu vou falar, eu vou salvar Fantasia, eu seguirei o meu sonho! Seu nome é Luna!
Por que está tudo escuro?
IMPERATRIZ – É um começo, é sempre escuro. Abra a sua mão. O que é que você deseja?
Bastian pega o amuleto, fecha os olhos, e quando abre todos os personagens de Fantasia estão ao seu redor. Eles dão uma volta pela plateia e quando retornam ao palco estão os alunos da turma de Bastian que correm e se escondem na lixeira.
TODOS – Bastian fez muitos pedidos e viveu inúmeras aventuras incríveis antes de finalmente retornar para seu mundo. Mas essa é uma outra história.


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