Não conheço quem tenha sido criança
na década de 80 que não tenha se envolvido emocionalmente com o filme A
História sem Fim, baseado no livro de Michael Ende.
Eu não fui diferente, era tão
apaixonada por este filme que a ansiedade foi grande em mostrá-lo aos meus
alunos.
Ainda assim, no começo de 2014 eu
apresentei duas propostas: trabalharmos uma comédia ou uma aventura. Por sorte,
aquele ano todos estavam animados com a ideia da aventura.
E assim foi. Lemos o livro,
assistimos ao filme, pesquisamos também algumas montagens teatrais pelo mundo
(disponíveis no youtube), estudamos a música tema... E foi um ano que, além de
termos muitos alunos bastante talentosos e dedicados, tive a parceria dos
professores Leandro Morais na música, em que elaborou uma orquestra de efeitos
sonoros para o espetáculo; a iluminação precisa do precoce aluno Cauã; e a
elaboração cenográfico-visual da professora Carol Narvaez.
Na produção contávamos com uma nova
coordenadora que não possuía experiência com apresentações artísticas e confiou
a mim o processo e resultado.
Eu sentia ainda que a grande maioria
dos pais eram pessoas da mesma faixa etária que eu, o que facilitaria o
envolvimento emocional tanto com o processo de montagem quanto a recepção do
produto final.
Não foi diferente. Recebemos todos
fortes elogios incluindo cartas à direção pedindo uma apresentação comunitária.
Infelizmente, a grande produção e
quantidade de alunos envolvidos não tornou possível que seguíssemos com uma
temporada, mas compartilho com vocês o texto final apresentado e espero ainda
fazer uma montagem profissional desta peça para o público infanto-juvenil.
Lembrem-se de, se forem usar o texto
em qualquer apresentação, especifiquem o crédito da adaptação dramatúrgica e me
avisem!!!
Livre adaptação do livro de
Michael Ende para apresentação no Curso Integral do Sigma L2 Norte – 2014
Cena 1 - Crianças na escola e
perseguição ao Bastian - 5º ano
No palco uma sala de aula com alunos
esperando a professora, fazendo bagunça, conversando. A professora entra na
sala, passa o dever no quadro e sai.
MIGUEL – Ai, que aula cansativa, ainda falta tanto
pra acabar e eu só queria dormir.
TIAGO – Que nada, a próxima aula é legal, difícil
vai ser amanhã que tem prova...
MARIANA – Hei, gente, vocês vão na festa da Marina
no sábado?
MARINA – Lógico que vão, eu só não chamei aquele
garoto esquisito, Bastian, ele nunca conversa com ninguém.
MARIANA – Também, se você tivesse chamado, acho que
ninguém ia querer ir na festa, né Marina.
MARINA – Gente, silêncio, a professora chegou.
PROFESSORA LUIZA – Olá turma, estão todos
presentes? Só está faltando Bastian, como sempre. Façam silêncio e prestem
atenção, vou anotar a matéria no quadro e depois vou beber água e já volto.
TIAGO – É para copiar, professora?
PROFESSORA LUIZA – Não, é pra tirar xerox! É claro
que é pra copiar.
Enquanto os alunos copiam o dever, começam a falar
de Bastian.
Cena 2 - Bastian e o Alfarrábio - 5º ano
LIVREIRA: Ou entre ou saia, mas feche a porta que está ventando muito.
BASTIAN: Sim, senhora.
LIVREIRA: Preste atenção, menino, eu não gosto de crianças. Vocês não
passam de uns desajeitados que bagunçam e estragam tudo, sujam os livros de
chocolate, rasgam as páginas e eu não quero problemas aqui na minha livraria.
Aviso logo, eu não tenho livros infantis aqui.
BASTIAN: Mas nem todos são assim. Eu me chamo Bastian, senhora, e não
quero incomodar.
LIVREIRA: Parece que você está fugindo de alguma coisa. A polícia está
atrás de você? Do que está fugindo?
BASTIAN: Dos garotos da minha turma. Eles nunca me deixam em paz. Me
xingam, me empurram e riem de mim.
LIVREIRA: E por que você não bate neles?
BASTIAN: Porque eu não gosto de brigas e também não sou bom de lutas.
LIVREIRA: E por que não fala com eles?
BASTIAN: Da última vez que tentei, eles me jogaram numa lata de lixo.
LIVREIRA: Bom, pelo menos você é um bom aluno?
BASTIAN: Não, ano passado eu repeti de ano porque eu tive um problema
pessoal.
LIVREIRA: Minha nossa, você é um fracasso então? O que você gosta de
fazer?
BASTIAN: Gosto de inventar histórias, criar nomes, imaginar coisas.
LIVREIRA: E seus pais, são casados?
BASTIAN: Não, minha mãe morreu.
LIVREIRA: Lamento, garoto. Espere um momento que vou atender ao telefone
e já volto. Não mexa em nada.
Cena 3 – Fantasia – 6º e 7º
BASTIAN (lendo o livro): Era meia-noite na floresta uivante, vento sibilava
sobre as cúpulas das árvores. Subitamente algo enorme colidiu e ressoou através
da floresta misteriosa.
GIGANTE: Com
licença, será que posso ficar com vocês essa noite? É que eu viajei o dia
inteiro.
O gigante come, todos se assustam.
GIGANTE: Essas pedras calcárias parecem
deliciosas.
PEQUENO GNOMO NOTURNO: Ele é meio
maluco, não é?
HOMENZINHO ELEGANTE E MINÚSCULO:
Certamente, senhor come-pedras, e nós estamos aqui por causa dessas pedras.
BASTIAN (lendo o livro): De repente, uma luzinha fraca passou em ziguezague
pelo bosque, parou tremeluzindo aqui e ali, a uma esfera luminosa, do tamanho
de uma bola de gude, que se deslocava em extensos saltos. Era um fogo-fátuo. E
tinha-se perdido. Era, portanto, um fogo-fátuo perdido, uma coisa muito rara,
mesmo em Fantasia. Segurava na mão direita uma bandeirinha branca, minúscula,
que se agitava através dele. Tratava-se, portanto, de um mensageiro ou de um
embaixador.
GIGANTE: Há hoje muito movimento por
aqui. Aí vem outro.
PEQUENO GNOMO NOTURNO: — Huhu, um
fogo-fátuo! Que prazer, que prazer!
HOMENZINHO ELEGANTE E MINÚSCULO: —
Pelo que vejo, você. . . também está aqui na qualidade de mensageiro.
FOGO FÁTUO: — Estou, sim!
HOMENZINHO ELEGANTE E MINÚSCULO: —
Então aproxime-se, por favor. Também nós somos mensageiros. Venha sentar-se
conosco. Você não quer se sentar, amigo?
FOGO-FÁTUO: A verdade é que estou com
muita pressa, Eu só queria perguntar se vocês saberiam me ensinar o caminho
para a Torre de Mármore.
PEQUENO GNOMO NOTURNO: Huhu! Quer
ir visitar a imperatriz Criança?
FOGO FÁTUO: É isso mesmo. Tenho
uma mensagem muito importante para ela.
GIGANTE: Que mensagem?
FOGO-FÁTUO: Trata-se de uma mensagem
secreta.
CARACOL: Todos têm a mesma missão que
você, é possível que seja a mesma mensagem. Por que não conta logo?
FOGO-FÁTUO: Acontece que na minha
terra, onde costumava ter um lindo lago, ele sumiu, não está mais lá. Não
existe mais nada.
CARACOL: É como um buraco?
FOGO-FÁTUO: Não é um buraco, se fosse
um buraco existiria alguma coisa, mas não existe mais nada.
GIGANTE: Onde moramos está acontecendo
a mesma coisa.
GNOMO NOTURNO: Nós moramos no sul, e lá
também.
FOGO-FÁTUO: meu povo me mandou pedir
ajuda à imperatriz na torre de mármore.
HOMEM MINÚSCULO E ELEGANTE: Nós todos
temos essa mesma missão, o que estamos esperando? Também na minha região o nada
dominou tudo.
MORCEGO (que estava dormindo durante
todo o tempo, acorda): Que está acontecendo, amigos? Vocês estão indo
logo? Essa não.... (o morcego olha em volta e percebe que o nada está se
aproximando enquanto seus amigos partem). O nada!
Cena 4 - A Torre de Mármore - 4º ano
DUENDE – Tenho que falar imediatamente com
a Imperatriz Criança!
MINOTAURO – Eu já anunciei a minha
chegada!
ELFO MALUCO – Anunciou a sua chegada?
Então não é possível ir falar logo com ela?
BRUXA – Não, é preciso esperar muito
tempo, há aqui um grande número de mensageiros!
FANTASMA – Mas o que há aqui? Que confusão
é essa?
MONSTER HIGH – O que toda esta gente está
fazendo aqui?
PRINCESA – São todos mensageiros, de todas
as regiões de fantasia.
DRAGÃO VERMELHO – Todos trazem a mesma
mensagem que nós, já falei com muitos deles, parece que por toda parte surgiu o
mesmo perigo.
ELFO MALUCO – E a imperatriz Criança?
GNOMO – Quando podemos falar com ela?
FADA-MÉDICA – Silêncio! A imperatriz
Criança está doente!
BRUXA - A imperatriz criança é a soberana de todos os
inumeráveis países do reino sem fronteira de fantasia. E mais
que soberana, ela trata a todos com igualdade, não julga ninguém e nem
dá ordens.
FADA MÉDICA - A imperatriz criança é o centro de todo o reino de
Fantasia e todas as criaturas só existem porque ela também existe.
MINOTAURO – Ela é respeitada por todas as criaturas deste reino, e todos
nós estamos igualmente preocupados com a sua sobrevivência.
PRINCESA – Ela está muito doente e o fato é que nenhum de nós sabe como
curar a imperatriz criança.
FANTASMA – O problema é que sem ela nada pode existir, assim como um
corpo humano não pode existir sem coração.
DRAGÃO VERMELHO – Se ao menos soubéssemos em que consiste sua doença.
Não tem febre, não tem nenhum inchaço, nenhuma inflamação. É como se estivesse
simplesmente se apagando.
MONSTER HIGH — Não tosse, não assoa o nariz, não tem nenhuma doença
conhecida da medicina.
ELFO-MALUCO — Uma coisa parece evidente, há uma
estranha relação entre a doença dela e as coisas terríveis que os
mensageiros vindos de todos os lados de Fantasia nos anunciam!
DUENDE – Ora, ora, você vê relações estranhas em tudo.
ELFO-MALUCO – E você não vê nada além dessas orelhas enormes.
DUENDE — Por favor, colegas! Não vamos entrar em discussões
subjetivas e pessoais! E, sobretudo. . . não falem tão alto!
Cairon entra no palco com o medalhão
DRAGÃO VERMELHO - Silêncio, vejam todos, é o medalhão, o distintivo
do enviado da imperatriz Criança, só quem carrega esse medalhão pode agir em
seu nome, é como se ela própria estivesse presente. O nome do medalhão é
Aurin.
CAIRON: Representantes dos povos de Fantasia, não vou tentar disfarçar
nosso fracasso com palavras bonitas. Estamos todos perplexos diante da doença
da imperatriz Criança. Sabemos apenas que esta doença coincidiu com o
aniquilamento progressivo de Fantasia.
Precisaremos de um explorador capaz de encontrar caminho
onde caminho não há, e de não retroceder diante de qualquer perigo ou
esforço. Numa palavra, um herói. E a imperatriz Criança disse-me o nome
desse herói, a quem ela e nós confiamos nossa sorte: o nome dele é Atreiú
e vive no Mar das Ervas, para além das Montanhas de Prata. Agora
vocês já sabem de tudo.
Cena 5 - O Acampamento dos Pele-verde - 3º ano
CAIRON - Onde estão os caçadores e
caçadoras?
ADOLESCENTE 1 - Foram todos caçar.
Só voltam daqui a três ou quatro dias.
CAIRON - Atreiú está com eles?
ADOLESCENTE 2 – Sim, estrangeiro,
mas como é que o conhece?
CAIRON - Não o conheço, mas ele
precisa ser chamado agora.
ADOLESCENTE 3 - Estrangeiro,
dificilmente ele virá porque hoje é a sua caçada.
MENININHA - Você está usando a jóia,
você foi enviado pela imperatriz?
CAIRON - Eu sou o médico
Cairon, vocês não me conhecem?
ADOLESCENTE 4 - Sim, estou
reconhecendo o senhor, é o médico mais famoso de Fantasia!
ADOLESCENTE 5 – É mesmo, o médico
Cairon, a gente sempre ouviu falar nele.
ADOLESCENTE 6 - Eu vou chamar Atreiú
para o senhor, não se preocupe.
Cairon desmaia no chão de cansaço.
ADOLESCENTE
6 – Minha nossa, ele devia estar muito cansado, vejam como ele desmaiou?
Coitado!
Um tempo depois acorda.
GUERREIRO 1 - Parece que ele
acordou! Este é Atreiú, senhor, ele deixou de caçar para vir aqui.
ADOLESCENTE 7 - Mas senhor, ele é só
uma criança! Você não percebe? Como ele vai te ajudar?
ADOLESCENTE 8 – Em que consiste essa missão?
CAIRON — Em encontrar o remédio para a imperatriz Criança e salvar
Fantasia.
ADOLESCENTES 9 E 10 – A imperatriz está doente? O que aconteceu com ela?
Tem alguma coisa que podemos fazer para ajudá-la? Fantasia corre perigo?
CAIRON - Então, você aceita?
ATREIU - Aceito.
Cena 6 - Artreiu e Artax - 6º e 7º anos
ATREIÚ — Artax, temos de partir novamente. Temos de ir para longe, muito
longe. E ninguém sabe se voltaremos.
ARTAX — Sim, meu senhor. É o seu dia de caça?
ATREIÚ — Vamos atrás de caça muito mais importante.
ARTAX — Espere, senhor! Você esqueceu suas armas. Vai partir sem o
arco e as flechas?
ATREIÚ — Sim, Artax. Porque levo o "Brilho" e tenho de ir
desarmado.
ARTAX — Ah! E para onde vamos?
ATREIÚ — Para onde você quiser, Artax! Deste momento em
diante começamos a Grande Busca.
Eles encontram 3 trols
TROL SEM AS PERNAS — Não tenha medo! Não temos boa aparência, mas nesta
parte do Bosque de Haule não há mais ninguém, além de nós, que possa
preveni-lo. Foi por isso que viemos ao seu encontro.
ATREIÚ — Prevenir-me? De quê?
TROL COM BURACO NO MEIO DA BARRIGA — Já ouvimos falar de você. E
nos disseram o motivo pelo qual você está viajando. Você não deve
prosseguir, senão estará perdido.
TROL SÓ COM METADE DO CORPO — Vai acontecer a você o mesmo que aconteceu
a nós. Olhe para nós. Você gostaria de ficar assim?
ATREIÚ — Mas o que aconteceu a vocês?
TROL 1 — A destruição está se alastrando. Está cada vez maior, cresce de
dia para dia... se é que se pode dizer que o nada aumenta. Todos os outros
fugiram do Bosque de Haule, mas nós não quisemos deixar nossa terra.
E então ele nos surpreendeu durante o sono e nos deixou como você está
vendo.
ATREIÚ — Dói muito?
TROL 2 — Não, a gente não sente nada. Ficamos sem uma parte. E
depois disso ter acontecido cada vez nos falta uma parte maior. Em breve
deixaremos de existir.
ATREIÚ — E em que lugar da floresta aconteceu isso?
TROL 3 — Você quer ver? Vamos levá-lo até um lugar onde você possa ver,
mas você precisa nos prometer que não vai se aproximar. Caso contrário, o
nada vai te atrair de modo irresistível.
ATREIÚ – Está bem. Prometo.
TROL 1 — Suba o mais alto que puder. E depois olhe para o lado onde
o sol se põe. Então você o verá. . . ou melhor, não o verá.
Atreiú fica tonto e caí no sono. Enquanto sonha na
plateia, no palco aparece o grande búfalo.
BÚFALO – Se você tivesse me matado, agora seria um caçador. Mas você não
o fez, por isso posso ajudá-lo, Atreiú. Escute! Há em Fantasia um ser que
é mais velho do que todos os outros. Longe, muito longe, na direção do
norte, fica o Pântano da Tristeza. No meio desse pântano, eleva-se a
Montanha da Depressão. É aí que mora a Velha Morla. Procure a Velha Morla!
Atreiú acorda.
Cena 7 – O pântano da tristeza e a Velha Morla – 6º
e 7º anos
ARTAX – Temos de entrar aí, meu senhor?
ATREIÚ – Temos.
ARTAX – Não sei, acho que devíamos voltar para trás. Isto não tem
sentido, estamos atrás de uma coisa que não passou de um sonho, não temos o que
encontrar. Talvez a imperatriz Criança já tenha morrido e essa procura não
sirva para nada. Vamos voltar, meu senhor.
ATREIÚ – Artax, você nunca me falou assim. O que você tem? Está doente?
ARTAX – A cada passo que damos minha tristeza é maior. Perdi a esperança
e estou cansado. Não quero mais andar.
ATREIÚ – Mas temos que seguir. Vamos Artax! Você não pode desistir
agora! Ande! Eu seguro você! Não vou deixar você morrer.
ARTAX – Senhor, por favor, vá embora. Não quero que me veja morrer.
Atreiú sai arrasado e deixa Artax para trás. Atreiú
anda pela plateia chorando, arrasado. Quando encontra a Velha Morla no palco.
VELHA MORLA — Ei, garoto, o que você faz aqui?
ATREIÚ — Conhece isto, Morla?
VELHA — Olha, velha... AURIN... Há muito tempo que não o víamos, o Sinal
da imperatriz Criança. . . Há muito tempo.
ATREIÚ — A imperatriz Criança está doente. Você sabia?
VELHA (falando consigo mesma)—
Tanto faz, não é verdade, velha?
ATREIÚ — Se não a salvarmos, ela vai morrer e Fantasia deixará de
existir.
VELHA MORLA — Pouco nos importa, não é verdade, velha? Escute uma coisa
menino: E o que tem demais nisso? Para nós nada tem importância. Tudo nos
é indiferente; nada nos interessa. Somos velhas, menino, velhas demais.
Já vivemos bastante. Já vimos muito. Para quem sabe tanto como nós, nada
é importante. Tudo se repete eternamente, dia e noite, verão e inverno; o
mundo está vazio e não tem significado. Tudo se move em círculos. O que
aparece tem de desaparecer, o que nasce tem de morrer. Tudo passa, o bem e
o mal, o estúpido e o inteligente, o belo e o feio. Tudo é vazio. Nada é
real. Nada é importante.
ATREIÚ – Mas o Nada está se alastrando por toda parte!
VELHA MORLA — Você é novo, menino. Nós somos velhas. Se você fosse velho
como nós, saberia que não há nada senão tristeza. Veja uma coisa. Por que
não haveríamos de morrer, você, eu, a imperatriz Criança, todos, todos?
Tudo é aparência, tudo é um jogo no Nada. Tudo vai dar exatamente no
mesmo. Deixe-nos em paz, menino, vá embora.
ATREIÚ — Se você sabe tanto, também deve saber qual é a doença
da imperatriz Criança e se há remédio para ela.
VELHA MORLA — Sabemos, não é verdade, velha? Sabemos. Mas tanto faz que
ela se salve ou que morra. Por isso, por que haveríamos de dizê-lo a
você?
ATREIÚ — Se tudo lhe é indiferente, então você poderia dizer-me.
VELHA MORLA — Poderíamos, não poderíamos, velha? Mas não
temos vontade.
ATREIÚ — Então, é porque nem tudo lhe é indiferente! Nem mesmo você
acredita no que diz!
VELHA MORLA — Você é manhoso, menino! Você tem pouco tempo, eu muito. A
imperatriz Criança já existia antes de nós. Mas não é velha. É sempre
jovem. Repare. A vida dela não se mede em tempo, mas sim em nomes. Precisa
de um nome novo, precisa sempre ter um novo nome. Sabe os nomes dela, menino?
ATREIÚ — Não.
VELHA MORLA — Ela já teve muitos. Mas todos foram esquecidos. Todos
passaram. Sem um nome, porém, ela não pode viver. A imperatriz Criança
precisa apenas de um novo nome para ficar curada.
ATREIÚ — E de quem ela recebe esse nome? Quem pode dar-lhe um
nome? Onde posso encontrar esse nome?
VELHA MORLA — Nenhum de nós. Nenhum ser de Fantasia lhe pode dar um
nome novo. Por isso, não há nada a fazer. Mas não se preocupe, menino.
Nada importa.
ATREIÚ — Quem? Diga-me quem sabe, e eu a deixarei em paz
para sempre!
VELHA MORLA — Afinal, dá no mesmo. Talvez o Oráculo do Sul. Talvez
ele saiba. Que nos importa?
ATREIÚ — E como posso chegar até lá?
VELHA MORLA — Não pode chegar de maneira nenhuma, menino.
Cena 8 - a Ygramul, o Múltiplo, o mais
terrível dos monstros
NARRADOR 1 - 5º ANO – Os outros iam para casa almoçar. Bastian
também tinha fome, e estava com muito frio, apesar da grossa manta militar
que colocara sobre os ombros.
NARRADOR 2 - 5º ANO – De repente, perdeu a coragem, e todo o
seu plano lhe pareceu completamente disparatado e absurdo. Queria ir para
casa, agora mesmo, naquele exato momento!
NARRADOR 3 - 5º ANO – Ainda estava em tempo. O pai ainda não teria
percebido nada. Bastian nem sequer precisaria dizer-lhe que tinha matado a
aula. É claro que algum dia seu pai viria a saber, mas não seria agora.
NARRADOR 4 - 5º ANO – E o problema do livro roubado? Sim, também
teria de confessá-lo. O pai havia de encarar isso como encarava todas as
desilusões que Bastian lhe tinha dado. Não havia razões para ter
medo.
BASTIAN — Não. Atreiú não desistiria tão depressa, só porque a
coisa estava um pouco difícil. Tenho de levar até o fim o que comecei.
Agora já fui longe demais para voltar atrás. Tenho de continuar, aconteça
o que acontecer.
Atreiú anda pela beirada do palco como se fosse um precipício, sente
medo, insegurança, não sabe para onde seguir... vai margeando o palco.
Eventualmente aparece a figura do Lobo escondido, seguindo Atreiú pelo caminho.
Quando Atreiú escuta um barulho, percebe o Dragão da Sorte amarrado a uma teia.
Ele lutava com Ygramul.
ATREIÚ — Alto! Em nome da imperatriz Criança, pare!
Ygramul continua lutando com o Dragão, mas para e olha para
Atreiú. Ygramul é uma criatura horrível e Bastian dá um grito assustador.
Todos param, pois escutaram o grito de Bastian.
BASTIAN - Terá sido o meu grito que ele ouviu?
YGRAMUL - Um bípede! Depois de passar fome durante tanto
tempo aparecem-me logo estes dois petiscos! Que dia de sorte para Ygramul!
ATREIÚ — Sou Atreiú e cumpro uma missão da imperatriz Criança!
YGRAMUL — Você vem em má hora. Que quer de Ygramul? Estou muito ocupado,
como você pode ver.
ATREIÚ — Quero este Dragão da Sorte, dê-o para mim!
YGRAMUL — Para que você o quer, bípede Atreiú?
ATREIÚ — Perdi meu cavalo no Pântano da Tristeza. Tenho de ir procurar o
Oráculo do Sul, pois só ele pode me dizer quem é capaz de dar um novo nome
à imperatriz Criança. Se não receber esse nome ela morrerá, e com ela toda
a Fantasia, e você também, Ygramul, a quem chamam Múltiplo.
YGRAMUL — Ah! É por isso que apareceram esses lugares onde não há
nada?
ATREIÚ — Sim. Você também já sabe, Ygramul. . . O Oráculo do Sul
mora muito longe e o tempo que me é dado viver não seria suficiente para ir
até lá. É por isso que peço este Dragão da Sorte. Se ele me transportar
pelos ares, talvez possa atingir meu objetivo a tempo.
YGRAMUL — O veneno de Ygramul já está no corpo do dragão. Ele não
tem mais do que uma hora de vida, quando muito.
ATREIÚ — Então, já não há esperança, nem para ele, nem para mim,
nem para você, Ygramul.
YGRAMUL — Bem, pelo menos Ygramul terá comido bem pela última vez.
Mas também não podemos dizer que esta seja a última refeição de
Ygramul. Porque ele sabe uma maneira de o conduzir num abrir e fechar de
olhos até ao Oráculo do Sul. Resta saber se essa maneira lhe agrada,
bípede Atreiú.
ATREIÚ — O que você quer dizer?
YGRAMUL — Esse é o segredo de Ygramul. As criaturas do Abismo também têm
seus
segredos, bípede Atreiú. Até agora Ygramul nunca o revelou a ninguém. E
você também tem de jurar que não o dirá a ninguém. Pois seria muito ruim
para Ygramul, muito ruim mesmo, se este segredo fosse conhecido. Tem
que deixar que Ygramul o morda. O veneno de Ygramul, mata ao fim de uma hora,
mas, ao mesmo tempo, confere àquele que o tem em si o poder de se deslocar
até qualquer lugar de Fantasia onde deseje ir. Imagine o que seria se
todos soubessem disto! Todas as vítimas de Ygramul lhe escapariam!
ATREIÚ — Uma hora? Mas que posso eu fazer em apenas uma hora?
YGRAMUL — Essa hora lhe será mais útil do que todas as horas que
possa passar aqui. Decida!
ATREIÚ — Faça o que me propôs!
BASTIAN — Graças a Deus que não estou em Fantasia. Felizmente estes
monstros não existem na realidade. Afinal, trata-se apenas de uma
história.
Cena 09 - Atreiú no pântano e o Dragão da Sorte -
6º e 7º anos
Atreiú está dormindo próximo ao Dragão da Sorte no
palco. O Dragão da Sorte acorda.
DRAGÃO DA SORTE - Atreiú, Atreiú! Não se espante por eu também
estar aqui, Atreiú. É certo que eu estava paralisado, preso na teia de
aranha, mas ouvi tudo o que Ygramul disse a você. E, então, pensei que
também podia fazer uso do segredo que ele tinha confiado a você. E foi
assim que escapei.
ATREIÚ - Custou-me muito deixá-lo nas garras de Ygramul, mas o
que eu podia fazer?
DRAGÃO DA SORTE - Para cada veneno existe um antídoto. Você vai
ver que tudo se resolverá. De agora em diante, tudo vai dar certo
para você. Afinal sou um Dragão da Sorte. ATREIÚ — Por que você
pediu para vir a este lugar, e não a qualquer outro lugar mais agradável?
DRAGÃO DA SORTE — A minha vida, se você a quiser, pertence a você.
Pensei que precisaria de um animal em que montar para a Grande Busca. E você
verá que é muito diferente percorrer o mundo nas costas de um Dragão da Sorte,
que cruza os céus à velocidade do vento. Combinado?
ATREIÚ — Combinado! Mas temos que fazer alguma coisa, e eu não sei o
que!
DRAGÃO DA SORTE — Ter sorte é o que basta.
Atreiú desmaia sentindo o efeito do veneno de
Ygramul.
Cena 10 - Os velhinhos cientistas – 4º ano –
sexta-feira
CIENTISTA
1 — Bom remédio, ótimo remédio! Beba, filho, beba. Vai lhe fazer bem!
ATREIÚ —
O que aconteceu com o dragão branco?
CIENTISTA
2 — Está tudo em ordem. Não se preocupe, rapaz. Ele vai ficar bom. Os dois vão
ficar bons. O pior já passou. Mas beba, beba!
CIENTISTA
3 – Agora nos diga, quem são vocês?
CIENTISTA
4 – Pare de fazer perguntas!
CIENTISTA
5 — Nós podemos ajudar vocês a encontrar as três portas do Oráculo do Sul.
ATREIÚ
— Compreendo. E o que são estas três portas?
CIENTISTA
6 — A primeira chama-se Porta do Grande Enigma. A segunda, Porta do Espelho
Mágico. E a terceira, Porta Sem Chave...
CIENTISTA
7 — A primeira, a Porta do Grande Enigma, é a porta das duas esfinges. Essa
porta está sempre aberta. . . O que é lógico.
CIENTISTA
8 — Apesar disso, ninguém pode passar para o outro lado, a menos que... as
esfinges fechem os olhos. Porque o olhar de uma esfinge é totalmente diferente
do olhar de qualquer outro ser.
CIENTISTA
9 — Nós e todos os outros seres olhamos para alguma coisa. Vemos o mundo. Mas
uma esfinge não vê nada: é cega. Mas seus olhos transmitem algo.
CIENTISTA
10 — Eles transmitem todos os enigmas do mundo. Por isso, as duas esfinges
estão sempre a olhar uma para a outra. Porque só uma esfinge pode suportar o
olhar de outra esfinge.
CIENTISTA
11 — Agora imagine o que será de uma pessoa que se atreva a interferir na troca
de olhares entre ambas!
CIENTISTA
12 — Fica petrificada, e não poderá mover-se antes de ter decifrado todos os
enigmas do mundo. Bom, quando você passar por lá logo verá os restos desses
pobres diabos.
ATREIÚ
— Mas você não disse que elas às vezes fecham os olhos? Não dormem de vez em
quando?
CIENTISTA
13 — Dormir? Pelo amor de Deus, imagine uma esfinge dormir! Não, claro que não
dormem.
CIENTISTA
14 — As esfinges fecham os olhos para certos visitantes e deixam-nos passar. A
questão é: por que fecham os olhos para uns e não para outros?
CIENTISTA
15 — Ninguém sabe. Você terá de fazer o que todos fazem, esperar até que elas
decidam. . . sem saber por quê.
CIENTISTA
16 — A segunda porta. A Porta do Espelho Mágico. Sobre ela, nada podemos dizer
que tenha sido observado pessoalmente, mas só aquilo que nos é contado. Esta
segunda porta está ao mesmo tempo aberta e fechada.
CIENTISTA
17 — Parece absurdo, não parece? Talvez seja melhor dizer que não está nem
aberta, nem fechada. Em resumo: é como um grande espelho, ou qualquer coisa do
gênero, mas não é feita de vidro nem de metal.
CIENTISTA
18 — Quando as pessoas chegam em frente dela, vêem-se a si próprias. . . mas não
como se veriam num espelho comum, nada disso! Não vêem sua aparência exterior,
mas seu verdadeiro ser interior, tal como ele é na realidade. Quem quiser transpor
esta porta tem de penetrar em si próprio.
CIENTISTA
19 — A Porta Sem Chave está fechada. Simplesmente fechada. E é tudo! Não tem
trinco, nem puxador, nem buraco de fechadura, nada!
CIENTISTA
20 — Não há nada capaz de partir, dobrar ou dissolver o selênio de Fantasia.
Ele é absolutamente indestrutível.
ATREIÚ
— Então, é impossível passar por essa porta?
CIENTISTA
1 — Devagar, rapaz, devagar! Já houve pessoas que passaram por ela e falaram
com Oráculo, não é verdade? Portanto, é possível abrir a porta.
ATREIÚ
— Mas como?
CIENTISTA
3 — Ouça bem: a terceira porta reage à nossa vontade. É precisamente a nossa
vontade que o torna tão resistente. Quanto mais queremos entrar, mais fechada
se torna a porta.
CIENTISTA
4 — Mas se alguém conseguir se esquecer de todas as suas intenções e não quiser
absolutamente nada. . . a porta se abrirá sozinha.
ATREIÚ
— Já entendi, agora tenho que partir. Tomem conta do Dragão da Sorte enquanto
isso.
TODOS
OS CIENTISTAS – Boa Sorte, Atreiú! Vai precisar de muita sorte!
CENA 11 – As Três Portas Mágicas –
5º, 6º e 7º anos
BASTIAN
(Lendo o livro) – Atreiú estava agora
a cerca de cinquenta passos da porta das Esfinges. Em frente à porta e entre
dois pilares, Atreiú viu inúmeras caveiras e esqueletos. . . Restos dos mais
diversos habitantes de Fantasia que, ao tentarem transpor a porta, haviam sido
paralisados para sempre pelo olhar das esfinges.
NARRADOR
3 – Mas não foi isso que fez Atreiú parar. O que o deteve foi o aspecto das
esfinges.
NARRADOR
4 – Atreiú já tinha aprendido muito em sua Grande Busca; vira muitas coisas,
algumas maravilhosas e outras terríveis, mas até aqui não sabia que o
maravilhoso e o terrível podiam coexistir num só objeto e que a beleza podia
ser horrível. Apesar disso, continuou em frente. Não voltou a olhar para cima.
NARRADOR
5 – O fardo do medo que queria pregá-lo ao chão era cada vez mais pesado.
Apesar disso, continuou. Não sabia se as esfinges tinham ou não fechado os
olhos.
NARRADOR
6 – E no mesmo instante em que lhe pareceu que toda sua força de vontade era
insuficiente para dar o último passo, ouviu o ressoar desse passo no interior
do arco de rocha. NARRADOR 1 – E, ao mesmo tempo, o medo o abandonou, tão total
e absolutamente, que ele percebeu que dali em diante nunca mais teria medo,
acontecesse o que acontecesse.
BASTIAN
– Ergueu a cabeça e viu que a Porta do Grande Enigma ficava para trás. As
esfinges tinham-no deixado passar.
No palco todos os cientistas vibram
em comemoram. Os narradores e os personagens de Fantasia saem da plateia, antes
de subir no palco Atreiú percebe que está diante da segunda porta.
ATREIÚ
– A segunda porta: quando se confrontam consigo mesmos, a maioria dos homens
foge!
Bastian e Atreiú se olham de frente.
BASTIAN
– Mas isso não faz o menor sentido. Isso já está indo longe demais!
Bastian joga o livro.
Atreiú segue com coragem de volta
para a plateia. Vê a terceira porta. Os cientistas voltam a espiar pelo palco.
CIENTISTAS
– Ele está conseguindo, chegou ao terceiro portal, chegou ao Oráculo do Sul!
Todos prestam bastante atenção.
No corredor da plateia estão as duas
esfinges e Atreiú.
ESFINGE
1 – Não tenha medo! Estamos esperando por você há muito tempo, Atreiú!
ATREIÚ
– Esse é o Oráculo do Sul?
ESFINGE
2 – Sim, nós somos e sabemos o que pode salvar fantasia. A imperatriz precisa
de um novo nome.
ESFINGE
1 – Só uma criança humana pode dar a ela um novo nome.
ESFINGE
2 – E você só a encontrará além das fronteiras de fantasia.
ESFINGE
1 – Se você quiser salvar nosso mundo, precisa se apressar.
ESFINGE
2 – Não sabemos mais por quanto tempo poderemos deter o Nada!
ESFINGE
1 - Chegou a hora, já é tarde. Temos de nos separar.
ESFINGE
2 – O Nada vem chegando e o Oráculo vai se calar.
Atreiú sai correndo e encontra o
Dragão, eles saem pela plateia.
BASTIAN
– Mas se eles estavam falando comigo, por que não me perguntaram? Minha mãe
tinha um nome muito bonito!
Cena 12 – O confronto com o Nada –
Gmork
GMORK
– Eu vou cortar você em pedacinhos.
ATREIÚ
– Quem é você?
GMORK
– Eu sou Gmork, e você, seja lá quem for, vai ter a honra de ser minha última
vítima.
ATREIÚ
– Não morrerei tão facilmente, sou um guerreiro.
GMORK
– Ah corajoso guerreiro, então lute contra o nada
ATREIÚ
– Eu não posso, não consigo ultrapassar as fronteiras de fantasia.
GMORK
– Fantasia não tem fronteiras.
ATREIÚ
– Não é verdade, está mentindo.
GMORK
– Garoto tolo. Não sabe nada sobre fantasia. É o mundo da fantasia humana. Cada
lugar, cada criatura dela é uma peça dos sonhos e das esperanças do ser humano.
Por isso ela não tem fronteiras.
ATREIÚ
– Mas por que fantasia está morrendo?
GMORK
– Porque as pessoas começaram a perder a esperança e esquecer seus sonhos. Por
isso o nada ficou tão forte.
ATREIÚ
– O que é o nada?
GMORK
– É o total vazio. É a destruição absoluta deste mundo. E eu tenho tentado
ajudar.
ATREIÚ
– Por quê?
GMORK
– Porque as pessoas que não têm esperança são fáceis de se controlar. E quem
tem o controle, tem o poder!
ATREIÚ
– Quem é você realmente?
GMORK
– Eu sou o servo do poder por trás do nada. Eu fui enviado para matar aquele
que poderia impedir o nada. Seu nome é Atreiú?
ATREIÚ
– Então se vamos morrer, prefiro morrer lutando. Venha me pegar, eu sou Atreiú!
Lutam. Atreiú consegue matar Gmork e cai cansado junto ao seu corpo. Na
plateia o Dragão da Sorte procura por Atreiú. Ele encontra Atreiú no palco e
entrega o Aurin para Atreiu. Os dois encontram a Imperatriz que está com uma
pequena luz na mão.
Cena 13 – A Imperatriz criança
ATREIÚ
– Deixe o Aurin nos guiar! Se a Torre de Mármore ainda existir, leve-nos até
lá!
Os dois encontram a Imperatriz que
está com uma pequena luz na mão.
BASTIAN
– É ela, a Imperatriz! Parece uma menininha!
IMPERATRIZ
– Atreiú, por que está tão triste?
ATREIÚ
– Eu falhei, Imperatriz.
IMPERATRIZ
– Não, não falhou, você o trouxe com você.
ATREIÚ
– Quem?
IMPERATRIZ
– A criança da Terra, a única que pode nos salvar!
ATREIÚ
– Você sabia sobre essa criança humana? Meu cavalo morreu, eu quase morri,
quase fui pego pelo nada!
IMPERATRIZ
– Claro, eu sabia de tudo. Essa era a única forma de entrar em contato com um
humano.
ATREIÚ
– Mas eu não entrei em contato com um humano.
IMPERATRIZ
– Entrou sim. Ele sofreu com você, ele passou por tudo que você passou. E agora
ele veio até aqui com você. Ele está bem perto, escutando todas as palavras.
BASTIAN
– O que?
ATREIÚ
– Onde está ele? Se está tão perto, por que ele não vem?
IMPERATRIZ
– Ele ainda não sabe que faz parte da História sem Fim. Enquanto ele está
vivendo as suas aventuras, os outros estão vivendo a dele, estavam com ele
quando ele se escondeu dos meninos da livraria. Ele pegou o livro com símbolo
do Aurin na capa e está lendo sua própria história agora!
BASTIAN
– Mas isso é impossível. Eu não posso acreditar, eles não podem estar falando
de mim. O que eu tenho que fazer?
ATREIÚ
– O que ele tem que fazer?
IMPERATRIZ
– Ele só tem que me dar um novo nome, ele só tem que falar alto! Bastian!
BASTIAN
– Está bem, eu vou falar, eu vou salvar Fantasia, eu seguirei o meu sonho! Seu
nome é Luna!
Por
que está tudo escuro?
IMPERATRIZ
– É um começo, é sempre escuro. Abra a sua mão. O que é que você deseja?
Bastian pega o amuleto, fecha os
olhos, e quando abre todos os personagens de Fantasia estão ao seu redor. Eles
dão uma volta pela plateia e quando retornam ao palco estão os alunos da turma
de Bastian que correm e se escondem na lixeira.
TODOS
– Bastian fez muitos pedidos e viveu inúmeras aventuras incríveis antes de
finalmente retornar para seu mundo. Mas essa é uma outra história.
Nenhum comentário:
Postar um comentário