Em 2012 a minha coordenadora e chefe, Márcia
Furtado, havia me pedido que fizesse um espetáculo com todos os alunos de
teatro (na época eu tinha alunos que iam do 3º ano do Fundamental I ao 7º ano
do Fundamental II - e a grande maioria fazia teatro por escolha própria, ou
para ficar próximo de seus amigo).
Descobri em 2012 que a melhor maneira de trabalhar
arte teatral com crianças (e também contos, histórias, temas) é escolhendo
aqueles temas e histórias que eu amava quando tinha a idade deles. É a minha
maneira de estabelecer um diálogo franco e transparente com meus alunos, de me
aproximar do universo deles.
E como é gostoso mostrar para crianças aquelas
coisas que nos fascinavam quando éramos crianças. Eles realmente ficam
envolvidos.
Rosa Maria no Castelo Encantado, de Érico
Veríssimo, era o meu livro infantil favorito. Eu pedia para minha irmã ler para
mim sempre! E carreguei um sonho por muitos anos, de fazer uma montagem teatral
para o público infantil - essa era a grande oportunidade.
Foi uma peça trabalhada com muito amor.
Na ocasião, meu filho já estava com dois anos e já
estava matriculado como aluno do Maternal e eu também daria para ele de
presente esta montagem.
Cada detalhe foi tratado com muito amor. E naquele
ano específico eu tive alunos tão especiais e dedicados que também se
apaixonaram pela proposta, o que contribuiu para um resultado
emocionante.
Vale uma observação especial: também foi uma
homenagem à minha sogra, dona desse nome tão belo que é Rosa Maria, e que não
tive a oportunidade de conhecê-la, pois o destino a levou quando meu marido
ainda era criança.
Segue abaixo a adaptação que fiz para a
apresentação do espetáculo com meus alunos.
Lembre-se que se for usar essa adaptação, coloque
meu nome nos créditos e me avise!!!
ROSA MARIA NO CASTELO ENCANTADO
HISTÓRIA DE ERICO VERISSIMO
Adaptação para teatro feita pela professora Dhenise
Galvão
PERSONAGENS
Mágico
Rosa Maria
Fadas (7)
Soldadinho azul
Soldadinho amarelo
Soldadinhos verdes
Laranja intrometida
Banana 1
Banana 2
Banana 3
Banana 4
Compadre Pêssego
Vizinho Abacate
Bá, Bé, Bi, Bó, Bu – (as 5 bonequinhas amigas de
Rosa Maria)
Cachorro Quente – o cão valente
7 Anões
Branca de Neve
Príncipe Encantado
Abelhinhas
Gato de botas
Pequeno Polegar
Chapeuzinho Vermelho
Bela Adormecida
João e Maria (irmãos)
Gigante
RESUMO DA HISTÓRIA
“Em Rosa Maria no castelo
encantado, uma garotinha de um ano de idade visita a casa de um mágico,
construção que nenhum adulto percebe ser, na verdade, um castelo. Ali, ela é
recebida como uma visita especial e todas as suas vontades são atendidas. Rosa
Maria vai adentrando os aposentos do castelo conduzida por anõezinhos azuis,
amarelos e verdes, todos minúsculos - suas cabeças ficavam na altura dos
joelhos da menina.
O mágico prepara um quarto para
que Rosa Maria fique morando no castelo. Ela ainda conhece a praça de recreio
das formigas, a sala de refeições (onde encontra frutas falantes), e um quarto
de paredes cor-de-rosa, logo pintadas de azul a pedido da pequena visitante.
O mágico dono do castelo
presenteia Rosa Maria com cinco bonecas. Depois de brincar bastante com as
bonequinhas, a menina descobre, em cima da mesa, um livro com figuras coloridas
na capa. As histórias do livro eram muitas: a do Gato de Botas, a da
Chapeuzinho Vermelho, a da Bela Adormecida. Ao ver a ilustração de uma
floresta, Rosa Maria fica fascinada, com vontade de conhecer o lugar.
O mágico lhe explica que a
floresta é encantada, e a menina insiste para que ele a mande para lá. O mágico
resiste, mas acaba fazendo a vontade de sua hóspede e a manda, junto com as
bonecas e o Cachorro-Quente, para a floresta, onde as meninas e o cãozinho
conhecem os Sete Anões e a Branca de Neve, além de um sapo encantado, o Pequeno
Polegar, a Bela Adormecida e João e Maria.
A aventura de Erico Verissimo
renova o sabor de histórias infantis consagradas, que todos conhecem mas nunca
cansam de ouvir mais uma vez.”
Texto disponível no site da
editora <http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=40282>,
acesso em 24/07/2012.
CENA 1 – INTRODUÇÃO
MÁGICO:
Eu sou um mágico. Moro num
castelo encantado.
Só as crianças é que enxergam o
meu castelo encantado. Com torres de açúcar e chocolate. Pontes que sobem e
descem, puxadas ou empurradas por anõezinhos barrigudos, vestidos de verde.
Quando um homem grande entra na
minha casa, tem de subir toda a escada, degrau por degrau. Quando uma criança
entra no meu castelo, é a escada que sobe com ela.
Para os adultos, eu me apresento
como o professor, e meu castelo encantado, é uma escola, mas as crianças
conseguem me ver de maneira diferente.
Mas não adianta a gente ficar
conversando assim à toa. O melhor é eu contar logo a visita que Rosa Maria fez
ao meu castelo maravilhoso.
Primeiro quero apresentar a vocês
a menina Rosa Maria. Apertem a mão gorducha e rosada da minha amiguinha.
CENA 2 – APRESENTAÇÃO DE ROSA
MARIA
FADA 1: Dona Rosa Maria, temos
muito prazer em conhecer a senhorita. Viram que mão macia? Parece um pãozinho
de tostão.
FADA 2: Recém-saído do forno.
Ainda está quentinho. E vejam a carinha dela. Olhem...
FADA 3: Não é bonita mesmo?
Parece um nenê de brinquedo. Parece que ainda não tem um ano bem completo.
FADA 4: Aprendeu a caminhar a
semana passada. Mas examinem bem o rostinho da senhorita Rosa Maria. Vocês
conhecem aquelas bolitas de vidro com que os meninos jogam? Como é mesmo o nome
delas? Alguns rapazes brasileiros dizem assim: "bolinha de gude".
Outros dão um nome diferente: "bolita de inhaque".
FADA 5: Oh! Este nosso Brasil é
tão grande, tão comprido que os meninos do Norte e os meninos do Sul chegam a
dar nomes diferentes a coisas tão pequeninas e simples como essas bolinhas de
vidro.
FADA 1: Os olhinhos de Rosa Maria
parecem duas enormes bolinhas de vidro preto, muito redondas, muito brilhantes.
FADA 6: E o nariz? Ah! O nariz é
assinzinho...
Se o rosto dela fosse um campo, o
nariz nem chegava a ser um monte, de tão baixinho que é.
FADA 7: A boca? Nem sei... Parece
uma Boca de pitanga!.
FADA 2: Nunca que as pitangas
tiveram um jeito tão engraçado e uma cor tão bonita como a boquinha de Rosa
Maria!
FADA 3: Os dedinhos das mãos dela
são como dez soldadinhos que sempre andam juntos. Só que não são do mesmo
tamanho... Marcham e cantam.
FADA 1: Venha, querida Rosa
Maria, vamos levá-la ao seu quarto, ele é todo cor-de-rosa.
ROSA MARIA: Não gosto dessa cor!
TODAS: Como não gosta de
cor-de-rosa? Como uma menina não gosta de cor-de-rosa? De que cor a senhorita
quer o seu quarto?
ROSA MARIA: Da cor que pintaram o
céu!
CENA 3 - OS SOLDADINHOS DO
CASTELO
MÁGICO – Bati palmas e dei uma
ordem. Apareceram cinqüenta soldadinhos pintores. Cada um tinha na mão um
pincel e na outra um balde de tinta azul. Saíram a correr pelas paredes,
esfregando nelas o pincel de tinta azul. Num minuto a parede mudou de cor.
SOLDADINHO AZUL — Dona Rosa
Maria, a senhorita queria um quarto da cor do céu? Aqui está! (Fazendo
cumprimento muito respeitoso e quase encosta o nariz no chão. Depois bateu
palmas e apareceu o Soldadinho Amarelo)
SOLDADINHO AMARELO – (Com uma
corneta, toca) To-to-ro-ró... to-ro-róóó! Venham todos receber a neném
Rosa Maria que já vai conhecer o seu quarto!
(Chegam diversos soldadinhos verdes e ficam
enfileirados para recer Rosa Maria. Eles se preparam para tocar a marchinha
engraçada de recepção.)
SOLDADO VERDE 1 – Vamos começar a
música de boas-vindas para a senhorita Rosa Maria. Podemos começar. (Eles
tocam a marchinha engraçada).
SOLDADO VERDE 2 – Senhorita Rosa
Maria, o Castelo Encantado do mágico é todo seu!
SOLDADO VERDE 3 – E não se
preocupe com as escadas, elas todas são mágicas e sobem junto com você!
SOLDADO VERDE 4 – Olhem todos (olhando
para cima), Rosa Maria já está lá em cima na sala do mágico!
TODOS – Ohhhhh!!!
CENA 4 – NA SALA DE REFEIÇÕES
MÁGICO (narrando) – Rosa
Maria foi para a sala de refeições. A mesa tinha uma fruteira em cima. Uma
laranja muito intrometida deu um pulo da fruteira, tirou o chapéu e disse:
LARANJA INTROMETIDA — Bom dia,
senhorita Rosa Maria! Em nome de todas as frutas do mundo, eu cumprimento a
senhorita.
Rosa Maria apertou a mão dela.
Depois quatro bananas, todas irmãs, de braços dados começaram a dançar. De
repente, pararam, coçaram o queixo e disseram: "Falta música".
As bananas agradeceram e
continuaram a dançar, muito contentes da vida.
Rosa Maria batia palmas e ria.
ROSA MARIA — Quero leite!
BANANA 1 – Certo, senhorita,
iremos providenciar.
BANANA 2 – O melhor leite que
você já tomou na sua vida.
BANANA 3 – O nosso leite é
docinho e não tem nem açúcar.
BANANA 4 – Aqui está o leite, senhorita
Rosa Maria!
(Rosa Maria bebeu e ficou com a
cara lambuzada.)
ROSA MARIA — Banana.
(A Banana 1 levantou-se,
despediu-se chorando das suas irmãs, beijou-as, disse adeus para a comadre
Laranja, para o compadre Pêssego e para o vizinho Abacate e desceu da
fruteira.)
BANANA 1 – Lá vou eu, minhas
queridas irmãs Bananas, adeus compadre pêssego.
COMPADRE PÊSSEGO – Adeus, dona
Banana!
BANANA 1 – Adeus, meu vizinho
Abacate!
VIZINHO ABACATE – Adeus, dona
Banana! Boa sorte em sua nova vida dentro do organismo dessa bela senhorita.
BANANA 1 — Senhorita Rosa Maria,
pode me comer.
(Então a banana, com as suas
próprias mãos, se descascou. As cascas caíram para o chão. E a banana ficou
branquinha, descascada, parada, esperando...)
(Rosa Maria sentiu muita pena da
banana e desatou o choro.)
LARANJA – Espere, Rosa Maria,
aqui tem uma mesa com muitos doces. Veja, a senhorita pode comer à vontade, são
os doces mais bonitos e gostosos do mundo.
ROSA MARIA (Comendo muito
feliz e satisfeita) – Nossa, não é fácil explicar o gosto que se tem
na boca. Por exemplo: experimente explicar o gosto de chocolate. Como é
difícil! É gosto de chocolate mesmo. Mas eu já comi demais, agora não como mais
doce o resto de minha vida. (bocejando) Estou com sono.
(As fadinhas a levaram para dormir
e todos os soldadinhos ficaram vijiando seu sono).
CENA 5 – AS CINCO BONECAS
Acordou alegre e disse: ROSA
MARIA — Quero cinco bonecas. Uma para cada dedo da mão. Mas quero boneca que se
mexa, que fale. Boneca bonita!
MÁGICO – Então eu botei em cima
duma mesa cinco paus de fósforos. Um era verde; outro, azul; o terceiro,
encarnado; o quarto, amarelo; e o último, branco. (Grita) —
Abracadabra! (O mágico sopra de leve os paus de fósforo que vão crescendo e
se transformando nas cinco bonecas)
BÁ, A BONECA VESTIDA DE VERDE –
Vejam que linda, Rosa Maria, está tão alegre que nem consegue falar.
BÉ, A BONECA VESTIDADE DE AZUL –
Nós somos do tamanho dela!
BI, A BONECA VESTIDADE DE
VERMELHO – Vamos fazer uma roda ao redor dela?
BÓ, A BONECA VESTIDA DE AMARELO –
Uma ciranda!
BU, A BONECA VESTIDADE DE BRANCO
(Puxa a música) - Ó, Rosa Maria! Ó, Rosa Maria! Entrarás na roda E
ficarás sozinha!
ROSA MARIA – Sozinha eu não fico,
Nem hei de ficar, Vou escolher a Bá Para ser meu par!
(E escolheu a Bá, que era a
bonequinha de vestido verde. A Bá foi para dentro da roda e escolheu a Bé, de
vestidinho azul. A Bé escolheu a Bi. A Bi escolheu a Bó e por fim a Bó escolheu
a Bu. Brincaram muito tempo. Depois cansaram.)
MÁGICO – Ora, eu, como mágico,
tinha a obrigação de não deixar a minha visita ficar aborrecida dentro do meu
castelo. Comecei a pensar num brinquedo...
CENA 6 – O LIVRO
(De repente Rosa Maria olhou para
uma mesa e viu um livro com figuras coloridas na capa. Perguntou:)
ROSA MARIA — Que é aquilo?
FADA 1 — Ora, senhorita, é um
livro.
ROSA MARIA — Mas que é um livro?
FADA 2 – A bobinha não sabe o que
é um livro!
FADA 3 – Nossa difícil explicar.
TODAS AS FADAS – (Tentam
explicar o que é um livro)
ROSA MARIA — Quero ver esse
livro.
FADA 4 – Venha, Rosa Maria,
sente-se sentou perto dele.
(As bonequinhas gritaram todas
ao mesmo tempo)
BÁ, BÉ, BI, BÓ, BU — Nós também
queremos ver! (Sentaram-se igualmente ao redor do livro.)
BÁ – Vá virando virando as
folhas.
BÉ – Vejam, é um livro cheio de
figuras coloridas.
BI – E também tem muitas
histórias.
BÓ - A do Gato de Botas.
BU - A da Menina do Chapeuzinho
Vermelho.
BÁ - A da Bela Adormecida do
Bosque.
BÉ - A do Príncipe Encantado que
virou sapo.
BI – Olhem, é a floresta
encantada!
CENA 7 – A FLORESTA ENCANTADA
ROSA MARIA – O que é floresta
encantada?
MÁGICO - É um mato onde moravam
anõezinhos que se chamavam gnomos, onde vivem as fadas, os elfos, os gênios
bons e maus, alguns gigantes bondosos ou malvados.
ROSA MARIA — Nós queremos entrar
nessa floresta encantada!
MÁGICO — Mas, senhorita, a
floresta fica muito longe. Precisamos muitos dias para chegar lá.
BÁ — Que homem bobo!
BÉ — A floresta encantada está
tão pertinho...
BI – Está logo aqui, no livro! (E
apontou para o livro.)
MÁGICO — Tudo bem, a floresta
está aqui mesmo. Então vocês querem mesmo entrar na floresta encantada?
BO — Queremos! Queremos!
MÁGICO — Pois vão entrar.
Esperem.
ROSA MARIA — Mas... e o senhor?
MÁGICO — Eu não posso. Sou grande
demais.
ROSA MARIA — Uma vez eu ouvi
papai dizer que a gente não devia entrar num mato sem cachorro. Que é que o
senhor acha?
MÁGICO — Está bem! Vou arranjar
um cachorro muito bom, muito inteligente e muito corajoso, que vai ser o
companheiro de vocês.
(O Mágico pegou uma salsicha e
dizendo palavras mágicas a transformou em um cachorro).
BU – Olhem só! O Mágico
transformou aquela salsicha solitária em um cachorro!!!
ROSA MARIA — Como é o nome dele?
CACHORRO — Eu me chamo
Cachorro-Quente. Eu vou acompanhar vocês na floresta, mas primeiro precisam
formar uma fila de frente para o livro.
MÁGICO — Todos quietos! Batalhão!
Ordinário, marche!
Todos saem marchando para a
floresta
Rosa Maria olhava com os olhos
arregalados para as grandes árvores, para os troncos grossos, para as folhagens
verdes. As bonequinhas caminhavam em silêncio, marchando direitinho como um
batalhão.
Cachorro-Quente latia de vez em
quando. Latia por latir, só para não ficar em silêncio. Porque estava com muito
medo de encontrar algum bicho feroz.
ROSA MARIA – Shhh... silêncio,
escutem uma música! Olhem, pegadas!
CENA 8 – O MUNDO DOS GNOMOS
CACHORRO-QUENTE – Parem, eu sou o
único que sabe ler aqui e vou ler para vocês esta placa. Nela está escrito:
“Aqui começa o mundo dos gnomos”. Vamos seguir!
BÁ – Nossa, estou cansada.
BÉ – Ainda tem uma escadaria pela
frente, veja!
BI – Que é isso, meninas, falta pouco.
BÓ – Vejam, uma cidade com
casinhas de telhado vermelho.
BU – Que cidade engraçada, são
pequeninhas e feitas de chocolate!
BÁ – Com telhados de caramelo.
BÉ – E vidros de açúcar.
ROSA MARIA – Escutem, a música
continua a tocar, vem daquela casa bonita.
(Viram lá dentro uma moça linda
deitada numa cama, dormindo, e sete anõezinhos barbudos, de carapuça verde,
sentados ao redor duma mesa. Um dos anões viu Rosa Maria, as bonecas e o
cachorro.)
ANÃOZINHO 1 — Entrem! Esta é a
casa dos gnomos. Os gnomos são amigos de todas as crianças do mundo!
(Os sete anõezinhos começaram a
andar de um lado para o outro. Num instante botaram a mesa, trouxeram pratos,
talheres e grandes travessas com doces, geléias, bolinhos e muitas outras
comidas boas.)
CACHORO-QUENTE — Então,
esqueceram-se de mim?
ANÃOZINHO 1 — O senhor me
desculpe, pode ir também para a mesa.
ROSA MARIA – Nossa, quanto doce.
A gente come por pora mania, come cada porcaria... Vendo a Branca de
Neve) Quem é aquela moça bonita ali na cama?
ANÃOZINHO 2 — É Branca de Neve.
ANÃOZINHO 3 – Uma rainha invejosa
quis matar Branca de Neve.
ANÃOZINHO 4 – Agora ela está
dormindo.
ANÃOZINHO 5 – Esperando o
Príncipe, que chega daqui a pouco para levá-la embora.
BÁ – Queremos ver um príncipe de
verdade.
BÉ – É mesmo, nunca vimos um.
ANÃOZINHO 6 — Enquanto o Príncipe
não vem, nós podíamos fazer um baile.
ANÃOZINHO 7 — (Falando
com um rádio) Nós queremos uma valsa bem bonita.
(O rádio sorriu e começou a tocar
uma valsa bem bonita.)
ANÃOZINHO 1 — Eu danço com
aquela! (Escolheu a BÁ)
(E cada um dos anões escolheu seu
par. Como os anões eram sete e as meninas seis, um dos barbudinhos ficou sem
par e não teve outro remédio senão dançar com o Cachorro-Quente.)
ROSA MARIA – (Escutando
um barulho de motor) Que barulho esdtranho é este?
ANÃOZINHO 1 — É a feiticeira!
ANÃOZINHO 2 – É a feiticeira que
anda voando no seu cabo de vassoura.
ROSA MARIA (Espiando pela
janela) – Não é a feiticeira, é o Príncipe chegando em um avião
amarelo.
ANÕEZINHOS – Vamos então acordar
Branca de Neve. Acorde!
(Entra o lindo príncipe com roupa
de aviador, joga umas moedas de ouro para cima, pega Branca de Neve e volta
para seu avião)
ROSA MARIA – Anõezinhos, gostamos
muito da festa e dos doces, agora vamos continuar caminhando pela floresta.
BI – Muito obrigada!
BÓ – Os doces estavam muito
gostosos.
BU – Tchau, até a próxima.
CENA 9 – DE NOITE NA FLORESTA
(Todos estavam andando e as luzes
foram se apagando, foi ficando de noite. Eles se sentam todos juntos na frente
do palco, tremendo de medo. Apenas luz negra. Um vaga-lume chega perto do
ouvido de Rosa Maria (pessoa toda de preto com um vaga-lume de cartolina branco
na mão))
VAGA LUME (Voz) — Se a senhorita
quer, eu chamo os meus companheiros para servirem de luz elétrica.
ROSA MARIA – Quero sim, senho
vaga-lume.
(Aparecem vário vaga-lumes iguais
e enchem o teatro até que volta a ser dia e todos os amigos ficam felizes.)
CENA 10 – AS ABELHAS
(Continuaram a caminhar.
Encontraram uma abelha dentro de uma grande flor cor de ouro.)
ROSA MARIA — Dona Abelha, que é que a senhora está fazendo?
ABELHA — Estou buscando material para
minha fábrica. Querem visitar a minha fábrica?
ROSA MARIA — Queremos!
ABELHA - Como a colméia é muito pequena,
peço que espiem de fora por um buraquinho.
ROSA MARIA - Lá dentro tudo é muito
engraçado. As abelhinhas com avental branco estão trabalhando perto duma mesa comprida, comprida...
CACHORRO QUENTE — Que é que elas estão fazendo?
ABELHA — Estão enrolando as balas de
mel... Aquelas balas que se vendem nas lojas, sabem?
ROSA MARIA — Muito obrigada, Dona Abelha
(E seguiu o seu caminho com as bonecas e o cachorro.)
CENA 11 – O SAPO PRÍNCIPE
BI — Quem é o senhor?
SAPO-PRÍNCIPE — Sou um príncipe
muito bonito. Foi uma feiticeira que me transformou em sapo.
CACHORRO-QUENTE — Isso deve ser
mentira. Como é que um sapo pode ser príncipe?
SAPO-PRÍNCIPE — Cachorro-Quente
bobo! Sou um príncipe! Eu te mostro!
(Saltou para cima do cachorro. O
cachorro deu uma dentada nele e de repente o sapo cresceu e se transformou num
príncipe muito bonito.)
CACHORRO-QUENTE — Agora eu apanho
mesmo uma surra!
SAPO-PRÍNCIPE – Muito obrigado,
senho Cachorro-quente, o senhor me livrou de uma grande maldição. Tome, aqui
está de presente um osso bom para cachorro!
CENA 12 – O GATO DE BOTAS
(Quando saíram da cidade das flores, apareceu um
gato no caminho dos sete companheiros. Cachorro-Quente começou a tremer.)
ROSA MARIA — Quem é o senhor?
GATO DE BOTAS — Eu sou o Gato de
Botas!
ROSA MARIA — Mas onde é que estão
as suas botas?
GATO DE BOTAS — As coisas andam
muito ruins. Tive de vender as botas para não morrer de fome. E, por falar em
fome, estou sentindo um cheiro de salsicha...
(E, dizendo isso, pulou para cima
do cachorro. O cachorro deitou a correr. Saem de cena o Gato de Botas e
Cachorro-Quente e depois volta só Cachorro-Quente se lambendo)
ROSA
MARIA — Onde está o gato?
CACHORRO-QUENTE — Eu comi.
(Todos riem bastante).
CENA 13 – VÁRIOS AMIGOS CONHECIDOS
(Seguiram os sete a caminhar.
Encontraram o Pequeno Polegar.)
PEQUENO POLEGAR – Olá, quem são
vocês? E por que vocês têm essa “Cara de Ontem”?
ROSA MARIA – Oi, você é o Pequeno
Polegar, não é? Eu sou a Rosa Maria e esses são meus amigos do Castelo
Encantado. O que significa “Cara de Ontem”?
PEQUENO POLEGAR – Desculpem, é
cara de noite mal dormida, mas tudo bem. Vou seguir com vocês.
TODOS – Ah, que legal!
PEQUENO POLEGAR – Vejam, minha
amiga Chapeuzinho Vermelho! Oi amiga, venha caminhar conosco?
CHAPEUZINHO VERMELHO – Poxa, não
posso entrar nesse bloco.Bem que eu queria, mas eu preciso levar a merenda na
casa da minha avó. Tchau Polegar!
(Mais adiante encontraram a Bela
Adormecida, debaixo duma árvore, e acordada.)
PEQUENO POLEGAR – Vejam, a Bela
Adormecida. Que legal, ela nunca está acordada. Olá Bela Adormecida, quer
caminhar conosco pela Floresta?
BELA ADORMECIDA – Olá Pequeno
Polegar, olá amigos dele. Vamos sim, quem sabe encontro um local mais agradável
para descansar. Vejam, aqui estão os irmãos João e Maria.
(Joãozinho e Maria, com os olhos
arregalados, com medo da feiticeira.)
BELA ADORMECIDA – Olá
irmãozinhos, por que vocês estão tão assustados?
JOÃO – Estamos com medo de
encontrar a feiticeira.
MARIA – Ela é má e está nos
procurando, acho que pretende nos cozinhar.
JOÂO – Podemos seguir com vocês?
BELA ADORMECIDA – É claro que
sim!
(De repente ouviram um urro. Um
urro de bicho muito grande.)
PEQUENO POLEGAR — É o gigante!
(Pequeno Polegar, a Bela
Adormecida, Joãozinho e Maria saem correndo e desaparecem.)
BI — E agora?
ROSA MARIA – E agora, Cachorro
Quente?
CACHORRO QUENTE – Agora vamos
fugir.
(Quando ele acabou de dizer isso,
apareceu o gigante, um homem enorme, de cara barbuda e feroz. Os sete
companheiros correram, loucos de medo.)
CENA 14 – A DESPEDIDA
MÁGICO – Crianças, vocês correram
tanto, que foram sair do outro lado do livro e caíram de novo dentro da sala do
meu castelo.
Agora faço esse livro ficar
pequeno outra vez.
Rosa Maria, é hora de você voltar
para casa, e você pode levar para casa as cinco bonequinhas e mais
Cachorro-Quente.
ROSA MARIA — Homem, eu gosto de
ti.
MÁGICO — Senhorita Rosa Maria,
quando quiser, pode voltar.
E vocês, meninos e meninas,
quando vierem à cidade onde eu moro, não deixem de visitar o meu castelo
encantado.
Eu sou um mágico.
SOBRE O AUTOR
Erico Verissimo dizia que era
apenas "um contador de histórias".
Contou muitas histórias para
gente grande, em livros como Olhai os lírios do campo, Caminhos cruzados, O
tempo e o vento, O senhor embaixador e Incidente em Antares. Mas também gostava
de contar histórias para crianças, em livros como este.
Ele nasceu em Cruz Alta, no
interior do Rio Grande do Sul, em 1905. Antes de ser escritor, fez muitas coisas.
Trabalhou no comércio, foi bancário, e se tornou sócio de uma pequena farmácia
que foi à falência porque ele preferia ficar lendo seus livros em vez de vender
remédios.
Quando se mudou para Porto
Alegre, Erico foi trabalhar na Revista do Globo, que era publicada pela
Livraria do Globo. Depois nasceu a Editora Globo, que ele ajudou a criar e a se
tornar uma das mais importantes do país. E que editou todos os seus livros,
desde o primeiro, Fantoches.
Ele é considerado um dos melhores
escritores brasileiros da sua época, e foi um dos mais populares. Muitos dos
seus livros foram traduzidos em outras línguas. Erico Verissimo contou suas
histórias para muita gente.
Morreu em Porto Alegre, em 1975,
quando ia fazer setenta anos.
Luis Fernando Verissimo
Nenhum comentário:
Postar um comentário