quarta-feira, 10 de junho de 2020

Rosa Maria no Castelo Encantado


Em 2012 a minha coordenadora e chefe, Márcia Furtado, havia me pedido que fizesse um espetáculo com todos os alunos de teatro (na época eu tinha alunos que iam do 3º ano do Fundamental I ao 7º ano do Fundamental II - e a grande maioria fazia teatro por escolha própria, ou para ficar próximo de seus amigo).

Descobri em 2012 que a melhor maneira de trabalhar arte teatral com crianças (e também contos, histórias, temas) é escolhendo aqueles temas e histórias que eu amava quando tinha a idade deles. É a minha maneira de estabelecer um diálogo franco e transparente com meus alunos, de me aproximar do universo deles.

E como é gostoso mostrar para crianças aquelas coisas que nos fascinavam quando éramos crianças. Eles realmente ficam envolvidos.

Rosa Maria no Castelo Encantado, de Érico Veríssimo, era o meu livro infantil favorito. Eu pedia para minha irmã ler para mim sempre! E carreguei um sonho por muitos anos, de fazer uma montagem teatral para o público infantil - essa era a grande oportunidade.

Foi uma peça trabalhada com muito amor.

Na ocasião, meu filho já estava com dois anos e já estava matriculado como aluno do Maternal e eu também daria para ele de presente esta montagem. 

Cada detalhe foi tratado com muito amor. E naquele ano específico eu tive alunos tão especiais e dedicados que também se apaixonaram pela proposta, o que contribuiu para um resultado emocionante. 

Vale uma observação especial: também foi uma homenagem à minha sogra, dona desse nome tão belo que é Rosa Maria, e que não tive a oportunidade de conhecê-la, pois o destino a levou quando meu marido ainda era criança.


Segue abaixo a adaptação que fiz para a apresentação do espetáculo com meus alunos. 

Lembre-se que se for usar essa adaptação, coloque meu nome nos créditos e me avise!!! 

ROSA MARIA NO CASTELO ENCANTADO
HISTÓRIA DE ERICO VERISSIMO
Adaptação para teatro feita pela professora Dhenise Galvão

PERSONAGENS
 Mágico
Rosa Maria
Fadas (7)
Soldadinho azul
Soldadinho amarelo
Soldadinhos verdes
Laranja intrometida
Banana 1
Banana 2
Banana 3
Banana 4
Compadre Pêssego
Vizinho Abacate
Bá, Bé, Bi, Bó, Bu – (as 5 bonequinhas amigas de Rosa Maria)
Cachorro Quente – o cão valente
7 Anões
Branca de Neve
Príncipe Encantado
Abelhinhas
Gato de botas
Pequeno Polegar
Chapeuzinho Vermelho
Bela Adormecida
João e Maria (irmãos)
Gigante


RESUMO DA HISTÓRIA
“Em Rosa Maria no castelo encantado, uma garotinha de um ano de idade visita a casa de um mágico, construção que nenhum adulto percebe ser, na verdade, um castelo. Ali, ela é recebida como uma visita especial e todas as suas vontades são atendidas. Rosa Maria vai adentrando os aposentos do castelo conduzida por anõezinhos azuis, amarelos e verdes, todos minúsculos - suas cabeças ficavam na altura dos joelhos da menina.
O mágico prepara um quarto para que Rosa Maria fique morando no castelo. Ela ainda conhece a praça de recreio das formigas, a sala de refeições (onde encontra frutas falantes), e um quarto de paredes cor-de-rosa, logo pintadas de azul a pedido da pequena visitante.
O mágico dono do castelo presenteia Rosa Maria com cinco bonecas. Depois de brincar bastante com as bonequinhas, a menina descobre, em cima da mesa, um livro com figuras coloridas na capa. As histórias do livro eram muitas: a do Gato de Botas, a da Chapeuzinho Vermelho, a da Bela Adormecida. Ao ver a ilustração de uma floresta, Rosa Maria fica fascinada, com vontade de conhecer o lugar.
O mágico lhe explica que a floresta é encantada, e a menina insiste para que ele a mande para lá. O mágico resiste, mas acaba fazendo a vontade de sua hóspede e a manda, junto com as bonecas e o Cachorro-Quente, para a floresta, onde as meninas e o cãozinho conhecem os Sete Anões e a Branca de Neve, além de um sapo encantado, o Pequeno Polegar, a Bela Adormecida e João e Maria.
A aventura de Erico Verissimo renova o sabor de histórias infantis consagradas, que todos conhecem mas nunca cansam de ouvir mais uma vez.”
Texto disponível no site da editora <http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=40282>, acesso em 24/07/2012.

CENA 1 – INTRODUÇÃO
MÁGICO:
Eu sou um mágico. Moro num castelo encantado.
Só as crianças é que enxergam o meu castelo encantado. Com torres de açúcar e chocolate. Pontes que sobem e descem, puxadas ou empurradas por anõezinhos barrigudos, vestidos de verde.
Quando um homem grande entra na minha casa, tem de subir toda a escada, degrau por degrau. Quando uma criança entra no meu castelo, é a escada que sobe com ela.
Para os adultos, eu me apresento como o professor, e meu castelo encantado, é uma escola, mas as crianças conseguem me ver de maneira diferente.
Mas não adianta a gente ficar conversando assim à toa. O melhor é eu contar logo a visita que Rosa Maria fez ao meu castelo maravilhoso.
Primeiro quero apresentar a vocês a menina Rosa Maria. Apertem a mão gorducha e rosada da minha amiguinha.

CENA 2 – APRESENTAÇÃO DE ROSA MARIA
FADA 1: Dona Rosa Maria, temos muito prazer em conhecer a senhorita. Viram que mão macia? Parece um pãozinho de tostão.
FADA 2: Recém-saído do forno. Ainda está quentinho. E vejam a carinha dela. Olhem...
FADA 3: Não é bonita mesmo? Parece um nenê de brinquedo. Parece que ainda não tem um ano bem completo.
FADA 4: Aprendeu a caminhar a semana passada. Mas examinem bem o rostinho da senhorita Rosa Maria. Vocês conhecem aquelas bolitas de vidro com que os meninos jogam? Como é mesmo o nome delas? Alguns rapazes brasileiros dizem assim: "bolinha de gude". Outros dão um nome diferente: "bolita de inhaque".
FADA 5: Oh! Este nosso Brasil é tão grande, tão comprido que os meninos do Norte e os meninos do Sul chegam a dar nomes diferentes a coisas tão pequeninas e simples como essas bolinhas de vidro.
FADA 1: Os olhinhos de Rosa Maria parecem duas enormes bolinhas de vidro preto, muito redondas, muito brilhantes.
FADA 6: E o nariz? Ah! O nariz é assinzinho...
Se o rosto dela fosse um campo, o nariz nem chegava a ser um monte, de tão baixinho que é.
FADA 7: A boca? Nem sei... Parece uma Boca de pitanga!.
FADA 2: Nunca que as pitangas tiveram um jeito tão engraçado e uma cor tão bonita como a boquinha de Rosa Maria!
FADA 3: Os dedinhos das mãos dela são como dez soldadinhos que sempre andam juntos. Só que não são do mesmo tamanho... Marcham e cantam.
FADA 1: Venha, querida Rosa Maria, vamos levá-la ao seu quarto, ele é todo cor-de-rosa.
ROSA MARIA: Não gosto dessa cor!
TODAS: Como não gosta de cor-de-rosa? Como uma menina não gosta de cor-de-rosa? De que cor a senhorita quer o seu quarto?
ROSA MARIA: Da cor que pintaram o céu!

CENA 3 - OS SOLDADINHOS DO CASTELO
MÁGICO – Bati palmas e dei uma ordem. Apareceram cinqüenta soldadinhos pintores. Cada um tinha na mão um pincel e na outra um balde de tinta azul. Saíram a correr pelas paredes, esfregando nelas o pincel de tinta azul. Num minuto a parede mudou de cor.

SOLDADINHO AZUL — Dona Rosa Maria, a senhorita queria um quarto da cor do céu? Aqui está! (Fazendo cumprimento muito respeitoso e quase encosta o nariz no chão. Depois bateu palmas e apareceu o Soldadinho Amarelo)
SOLDADINHO AMARELO – (Com uma corneta, toca) To-to-ro-ró... to-ro-róóó! Venham todos receber a neném Rosa Maria que já vai conhecer o seu quarto!
(Chegam diversos soldadinhos verdes e ficam enfileirados para recer Rosa Maria. Eles se preparam para tocar a marchinha engraçada de recepção.)
SOLDADO VERDE 1 – Vamos começar a música de boas-vindas para a senhorita Rosa Maria. Podemos começar. (Eles tocam a marchinha engraçada).
SOLDADO VERDE 2 – Senhorita Rosa Maria, o Castelo Encantado do mágico é todo seu!
SOLDADO VERDE 3 – E não se preocupe com as escadas, elas todas são mágicas e sobem junto com você!
SOLDADO VERDE 4 – Olhem todos (olhando para cima), Rosa Maria já está lá em cima na sala do mágico!
TODOS – Ohhhhh!!!

CENA 4 – NA SALA DE REFEIÇÕES
MÁGICO (narrando) – Rosa Maria foi para a sala de refeições. A mesa tinha uma fruteira em cima. Uma laranja muito intrometida deu um pulo da fruteira, tirou o chapéu e disse:
LARANJA INTROMETIDA — Bom dia, senhorita Rosa Maria! Em nome de todas as frutas do mundo, eu cumprimento a senhorita.
Rosa Maria apertou a mão dela. Depois quatro bananas, todas irmãs, de braços dados começaram a dançar. De repente, pararam, coçaram o queixo e disseram: "Falta música".
As bananas agradeceram e continuaram a dançar, muito contentes da vida.
Rosa Maria batia palmas e ria.
ROSA MARIA — Quero leite!
BANANA 1 – Certo, senhorita, iremos providenciar.
BANANA 2 – O melhor leite que você já tomou na sua vida.
BANANA 3 – O nosso leite é docinho e não tem nem açúcar.
BANANA 4 – Aqui está o leite, senhorita Rosa Maria!
(Rosa Maria bebeu e ficou com a cara lambuzada.)
ROSA MARIA — Banana.
(A Banana 1 levantou-se, despediu-se chorando das suas irmãs, beijou-as, disse adeus para a comadre Laranja, para o compadre Pêssego e para o vizinho Abacate e desceu da fruteira.)
BANANA 1 – Lá vou eu, minhas queridas irmãs Bananas, adeus compadre pêssego.
COMPADRE PÊSSEGO – Adeus, dona Banana!
BANANA 1 – Adeus, meu vizinho Abacate!
VIZINHO ABACATE – Adeus, dona Banana! Boa sorte em sua nova vida dentro do organismo dessa bela senhorita.
BANANA 1 — Senhorita Rosa Maria, pode me comer.
(Então a banana, com as suas próprias mãos, se descascou. As cascas caíram para o chão. E a banana ficou branquinha, descascada, parada, esperando...)
(Rosa Maria sentiu muita pena da banana e desatou o choro.)
LARANJA – Espere, Rosa Maria, aqui tem uma mesa com muitos doces. Veja, a senhorita pode comer à vontade, são os doces mais bonitos e gostosos do mundo.
ROSA MARIA (Comendo muito feliz e satisfeita) – Nossa, não é fácil explicar o gosto que se tem na boca. Por exemplo: experimente explicar o gosto de chocolate. Como é difícil! É gosto de chocolate mesmo. Mas eu já comi demais, agora não como mais doce o resto de minha vida. (bocejando) Estou com sono.
(As fadinhas a levaram para dormir e todos os soldadinhos ficaram vijiando seu sono).

CENA 5 – AS CINCO BONECAS
Acordou alegre e disse: ROSA MARIA — Quero cinco bonecas. Uma para cada dedo da mão. Mas quero boneca que se mexa, que fale. Boneca bonita!
MÁGICO – Então eu botei em cima duma mesa cinco paus de fósforos. Um era verde; outro, azul; o terceiro, encarnado; o quarto, amarelo; e o último, branco. (Grita) — Abracadabra! (O mágico sopra de leve os paus de fósforo que vão crescendo e se transformando nas cinco bonecas)
BÁ, A BONECA VESTIDA DE VERDE – Vejam que linda, Rosa Maria, está tão alegre que nem consegue falar.
BÉ, A BONECA VESTIDADE DE AZUL – Nós somos do tamanho dela!
BI, A BONECA VESTIDADE DE VERMELHO – Vamos fazer uma roda ao redor dela?
BÓ, A BONECA VESTIDA DE AMARELO – Uma ciranda!
BU, A BONECA VESTIDADE DE BRANCO (Puxa a música) - Ó, Rosa Maria! Ó, Rosa Maria! Entrarás na roda E ficarás sozinha!
ROSA MARIA – Sozinha eu não fico, Nem hei de ficar, Vou escolher a Bá Para ser meu par!
(E escolheu a Bá, que era a bonequinha de vestido verde. A Bá foi para dentro da roda e escolheu a Bé, de vestidinho azul. A Bé escolheu a Bi. A Bi escolheu a Bó e por fim a Bó escolheu a Bu. Brincaram muito tempo. Depois cansaram.)
MÁGICO – Ora, eu, como mágico, tinha a obrigação de não deixar a minha visita ficar aborrecida dentro do meu castelo. Comecei a pensar num brinquedo...

CENA 6 – O LIVRO
(De repente Rosa Maria olhou para uma mesa e viu um livro com figuras coloridas na capa. Perguntou:)
ROSA MARIA — Que é aquilo?
FADA 1 — Ora, senhorita, é um livro.
ROSA MARIA — Mas que é um livro?
FADA 2 – A bobinha não sabe o que é  um livro!
FADA 3 – Nossa difícil explicar.
TODAS AS FADAS – (Tentam explicar o que é um livro)
ROSA MARIA — Quero ver esse livro.
FADA 4 – Venha, Rosa Maria, sente-se sentou perto dele.
(As bonequinhas gritaram todas ao mesmo tempo)
BÁ, BÉ, BI, BÓ, BU — Nós também queremos ver! (Sentaram-se igualmente ao redor do livro.)
BÁ – Vá virando virando as folhas.
BÉ – Vejam, é um livro cheio de figuras coloridas.
BI – E também tem muitas histórias.
BÓ - A do Gato de Botas.
BU - A da Menina do Chapeuzinho Vermelho.
BÁ - A da Bela Adormecida do Bosque.
BÉ - A do Príncipe Encantado que virou sapo.
BI – Olhem, é a floresta encantada!

CENA 7 – A FLORESTA ENCANTADA
ROSA MARIA – O que é floresta encantada?
MÁGICO - É um mato onde moravam anõezinhos que se chamavam gnomos, onde vivem as fadas, os elfos, os gênios bons e maus, alguns gigantes bondosos ou malvados.
ROSA MARIA — Nós queremos entrar nessa floresta encantada!
MÁGICO — Mas, senhorita, a floresta fica muito longe. Precisamos muitos dias para chegar lá.
BÁ — Que homem bobo!
BÉ — A floresta encantada está tão pertinho...
BI – Está logo aqui, no livro! (E apontou para o livro.)
MÁGICO — Tudo bem, a floresta está aqui mesmo. Então vocês querem mesmo entrar na floresta encantada?
BO — Queremos! Queremos!
MÁGICO — Pois vão entrar. Esperem.
ROSA MARIA — Mas... e o senhor?
MÁGICO — Eu não posso. Sou grande demais.
ROSA MARIA — Uma vez eu ouvi papai dizer que a gente não devia entrar num mato sem cachorro. Que é que o senhor acha?
MÁGICO — Está bem! Vou arranjar um cachorro muito bom, muito inteligente e muito corajoso, que vai ser o companheiro de vocês.
(O Mágico pegou uma salsicha e dizendo palavras mágicas a transformou em um cachorro).
BU – Olhem só! O Mágico transformou aquela salsicha solitária em um cachorro!!!
ROSA MARIA — Como é o nome dele?
CACHORRO — Eu me chamo Cachorro-Quente. Eu vou acompanhar vocês na floresta, mas primeiro precisam formar uma fila de frente para o livro.
MÁGICO — Todos quietos! Batalhão! Ordinário, marche!
Todos saem marchando para a floresta
Rosa Maria olhava com os olhos arregalados para as grandes árvores, para os troncos grossos, para as folhagens verdes. As bonequinhas caminhavam em silêncio, marchando direitinho como um batalhão.
Cachorro-Quente latia de vez em quando. Latia por latir, só para não ficar em silêncio. Porque estava com muito medo de encontrar algum bicho feroz.
ROSA MARIA – Shhh... silêncio, escutem uma música! Olhem, pegadas!

CENA 8 – O MUNDO DOS GNOMOS
CACHORRO-QUENTE – Parem, eu sou o único que sabe ler aqui e vou ler para vocês esta placa. Nela está escrito: “Aqui começa o mundo dos gnomos”. Vamos seguir!
BÁ – Nossa, estou cansada.
BÉ – Ainda tem uma escadaria pela frente, veja!
BI – Que é isso, meninas, falta pouco.
BÓ – Vejam, uma cidade com casinhas de telhado vermelho.
BU – Que cidade engraçada, são pequeninhas e feitas de chocolate!
BÁ – Com telhados de caramelo.
BÉ – E vidros de açúcar.
ROSA MARIA – Escutem, a música continua a tocar, vem daquela casa bonita.
(Viram lá dentro uma moça linda deitada numa cama, dormindo, e sete anõezinhos barbudos, de carapuça verde, sentados ao redor duma mesa. Um dos anões viu Rosa Maria, as bonecas e o cachorro.)
ANÃOZINHO 1 — Entrem! Esta é a casa dos gnomos. Os gnomos são amigos de todas as crianças do mundo!
(Os sete anõezinhos começaram a andar de um lado para o outro. Num instante botaram a mesa, trouxeram pratos, talheres e grandes travessas com doces, geléias, bolinhos e muitas outras comidas boas.)
CACHORO-QUENTE — Então, esqueceram-se de mim?
ANÃOZINHO 1 — O senhor me desculpe, pode ir também para a mesa.
ROSA MARIA – Nossa, quanto doce. A gente come por pora mania, come cada porcaria... Vendo a Branca de Neve) Quem é aquela moça bonita ali na cama?
ANÃOZINHO 2 — É Branca de Neve.
ANÃOZINHO 3 – Uma rainha invejosa quis matar Branca de Neve.
ANÃOZINHO 4 – Agora ela está dormindo.
ANÃOZINHO 5 – Esperando o Príncipe, que chega daqui a pouco para levá-la embora.
BÁ – Queremos ver um príncipe de verdade.
BÉ – É mesmo, nunca vimos um.
ANÃOZINHO 6 — Enquanto o Príncipe não vem, nós podíamos fazer um baile.
ANÃOZINHO 7 — (Falando com um rádio) Nós queremos uma valsa bem bonita.
(O rádio sorriu e começou a tocar uma valsa bem bonita.)
ANÃOZINHO 1 — Eu danço com aquela! (Escolheu a BÁ)
(E cada um dos anões escolheu seu par. Como os anões eram sete e as meninas seis, um dos barbudinhos ficou sem par e não teve outro remédio senão dançar com o Cachorro-Quente.)
ROSA MARIA – (Escutando um barulho de motor) Que barulho esdtranho é este?
ANÃOZINHO 1 — É a feiticeira!
ANÃOZINHO 2 – É a feiticeira que anda voando no seu cabo de vassoura.
ROSA MARIA (Espiando pela janela) – Não é a feiticeira, é o Príncipe chegando em um avião amarelo.
ANÕEZINHOS – Vamos então acordar Branca de Neve. Acorde!
(Entra o lindo príncipe com roupa de aviador, joga umas moedas de ouro para cima, pega Branca de Neve e volta para seu avião)
ROSA MARIA – Anõezinhos, gostamos muito da festa e dos doces, agora vamos continuar caminhando pela floresta.
BI – Muito obrigada!
BÓ – Os doces estavam muito gostosos.
BU – Tchau, até a próxima.

CENA 9 – DE NOITE NA FLORESTA
(Todos estavam andando e as luzes foram se apagando, foi ficando de noite. Eles se sentam todos juntos na frente do palco, tremendo de medo. Apenas luz negra. Um vaga-lume chega perto do ouvido de Rosa Maria (pessoa toda de preto com um vaga-lume de cartolina branco na mão))
VAGA LUME (Voz) — Se a senhorita quer, eu chamo os meus companheiros para servirem de luz elétrica.
ROSA MARIA – Quero sim, senho vaga-lume.
(Aparecem vário vaga-lumes iguais e enchem o teatro até que volta a ser dia e todos os amigos ficam felizes.)

CENA 10 – AS ABELHAS 
(Continuaram a caminhar. Encontraram uma abelha dentro de uma grande flor cor de ouro.)
ROSA MARIA — Dona Abelha, que é que a senhora está fazendo?
ABELHA — Estou buscando material para minha fábrica. Querem visitar a minha fábrica?
ROSA MARIA — Queremos! 
ABELHA - Como a colméia é muito pequena, peço que espiem de fora por um buraquinho. 
ROSA MARIA - Lá dentro tudo é muito engraçado. As abelhinhas com avental branco estão trabalhando perto duma mesa comprida, comprida...
CACHORRO QUENTE — Que é que elas estão fazendo? 
ABELHA — Estão enrolando as balas de mel... Aquelas balas que se vendem nas lojas, sabem?
ROSA MARIA — Muito obrigada, Dona Abelha 
(E seguiu o seu caminho com as bonecas e o cachorro.)

CENA 11 – O SAPO PRÍNCIPE
BI — Quem é o senhor?
SAPO-PRÍNCIPE — Sou um príncipe muito bonito. Foi uma feiticeira que me transformou em sapo.
CACHORRO-QUENTE — Isso deve ser mentira. Como é que um sapo pode ser príncipe?
SAPO-PRÍNCIPE — Cachorro-Quente bobo! Sou um príncipe! Eu te mostro!
(Saltou para cima do cachorro. O cachorro deu uma dentada nele e de repente o sapo cresceu e se transformou num príncipe muito bonito.)
CACHORRO-QUENTE — Agora eu apanho mesmo uma surra!
SAPO-PRÍNCIPE – Muito obrigado, senho Cachorro-quente, o senhor me livrou de uma grande maldição. Tome, aqui está de presente um osso bom para cachorro!

CENA 12 – O GATO DE BOTAS
(Quando saíram da cidade das flores, apareceu um gato no caminho dos sete companheiros. Cachorro-Quente começou a tremer.)
ROSA MARIA — Quem é o senhor?
GATO DE BOTAS — Eu sou o Gato de Botas!
ROSA MARIA — Mas onde é que estão as suas botas?
GATO DE BOTAS — As coisas andam muito ruins. Tive de vender as botas para não morrer de fome. E, por falar em fome, estou sentindo um cheiro de salsicha...
(E, dizendo isso, pulou para cima do cachorro. O cachorro deitou a correr. Saem de cena o Gato de Botas e Cachorro-Quente e depois volta só Cachorro-Quente se lambendo)
 ROSA MARIA — Onde está o gato?
CACHORRO-QUENTE — Eu comi.
(Todos riem bastante).

CENA 13 – VÁRIOS AMIGOS CONHECIDOS
(Seguiram os sete a caminhar. Encontraram o Pequeno Polegar.)
PEQUENO POLEGAR – Olá, quem são vocês? E por que vocês têm essa “Cara de Ontem”?
ROSA MARIA – Oi, você é o Pequeno Polegar, não é? Eu sou a Rosa Maria e esses são meus amigos do Castelo Encantado. O que significa “Cara de Ontem”?
PEQUENO POLEGAR – Desculpem, é cara de noite mal dormida, mas tudo bem. Vou seguir com vocês.
TODOS – Ah, que legal!
PEQUENO POLEGAR – Vejam, minha amiga Chapeuzinho Vermelho! Oi amiga, venha caminhar conosco?
CHAPEUZINHO VERMELHO – Poxa, não posso entrar nesse bloco.Bem que eu queria, mas eu preciso levar a merenda na casa da minha avó. Tchau Polegar!
(Mais adiante encontraram a Bela Adormecida, debaixo duma árvore, e acordada.)
PEQUENO POLEGAR – Vejam, a Bela Adormecida. Que legal, ela nunca está acordada. Olá Bela Adormecida, quer caminhar conosco pela Floresta?
BELA ADORMECIDA – Olá Pequeno Polegar, olá amigos dele. Vamos sim, quem sabe encontro um local mais agradável para descansar. Vejam, aqui estão os irmãos João e Maria.
(Joãozinho e Maria, com os olhos arregalados, com medo da feiticeira.)
BELA ADORMECIDA – Olá irmãozinhos, por que vocês estão tão assustados?
JOÃO – Estamos com medo de encontrar a feiticeira.
MARIA – Ela é má e está nos procurando, acho que pretende nos cozinhar.
JOÂO – Podemos seguir com vocês?
BELA ADORMECIDA – É claro que sim!
(De repente ouviram um urro. Um urro de bicho muito grande.)
PEQUENO POLEGAR — É o gigante!
(Pequeno Polegar, a Bela Adormecida, Joãozinho e Maria saem correndo e desaparecem.)
BI — E agora?
ROSA MARIA – E agora, Cachorro Quente?
CACHORRO QUENTE – Agora vamos fugir.
(Quando ele acabou de dizer isso, apareceu o gigante, um homem enorme, de cara barbuda e feroz. Os sete companheiros correram, loucos de medo.)

CENA 14 – A DESPEDIDA
MÁGICO – Crianças, vocês correram tanto, que foram sair do outro lado do livro e caíram de novo dentro da sala do meu castelo.
Agora faço esse livro ficar pequeno outra vez.
Rosa Maria, é hora de você voltar para casa, e você pode levar para casa as cinco bonequinhas e mais Cachorro-Quente.
ROSA MARIA — Homem, eu gosto de ti.
MÁGICO — Senhorita Rosa Maria, quando quiser, pode voltar.
E vocês, meninos e meninas, quando vierem à cidade onde eu moro, não deixem de visitar o meu castelo encantado.
Eu sou um mágico.

SOBRE O AUTOR
Erico Verissimo dizia que era apenas "um contador de histórias".
Contou muitas histórias para gente grande, em livros como Olhai os lírios do campo, Caminhos cruzados, O tempo e o vento, O senhor embaixador e Incidente em Antares. Mas também gostava de contar histórias para crianças, em livros como este.
Ele nasceu em Cruz Alta, no interior do Rio Grande do Sul, em 1905. Antes de ser escritor, fez muitas coisas. Trabalhou no comércio, foi bancário, e se tornou sócio de uma pequena farmácia que foi à falência porque ele preferia ficar lendo seus livros em vez de vender remédios.
Quando se mudou para Porto Alegre, Erico foi trabalhar na Revista do Globo, que era publicada pela Livraria do Globo. Depois nasceu a Editora Globo, que ele ajudou a criar e a se tornar uma das mais importantes do país. E que editou todos os seus livros, desde o primeiro, Fantoches.
Ele é considerado um dos melhores escritores brasileiros da sua época, e foi um dos mais populares. Muitos dos seus livros foram traduzidos em outras línguas. Erico Verissimo contou suas histórias para muita gente.
Morreu em Porto Alegre, em 1975, quando ia fazer setenta anos.
Luis Fernando Verissimo

Nenhum comentário:

Postar um comentário